A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, cumprimenta o vice-premiê da China, He Lifeng, durante encontro em Pequim – Mark Schiefelbein/AFP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em reunião em Pequim com a secretária do Tesouro americana, Janet Yellen, o vice-premiê chinês, He Lifeng, lamentou neste sábado (8) os “incidentes inesperados” que desgastaram os laços com os Estados Unidos. Yellen, por sua vez, pediu uma comunicação mais estreita entre os dois países para melhorar a tomada de decisões econômicas.

A troca de comentários amigáveis em nada se parece com a usual relação bélica entre as duas potências nos últimos meses. A visita da americana, que vai até domingo (9), é a tentativa da vez de reparar as relações entre as duas maiores economias do mundo, abalados por questões que vão da província rebelde de Taiwan a um imbróglio com balões de alta altitude.

A reunião em novembro passado entre o líder da China, Xi Jinping, e o presidente dos EUA, Joe Biden, foi frutífera, disse He, mas, “infelizmente, devido a incidentes imprevistos como o do balão, houve alguns problemas para colocar em prática o consenso alcançado pelos chefes de Estado”, acrescentou. O político se referia ao artefato voador chinês que sobrevoava o espaço aéreo americano em fevereiro deste ano antes de ser derrubado por Washington sob a acusação de espionagem –o que abriu uma crise diplomática.

“Em meio a uma perspectiva econômica global complexa, há uma necessidade urgente de as duas maiores economias se comunicarem de perto e trocarem opiniões sobre as possíveis respostas a diversos desafios”, devolveu Yellen a He. Fazer isso, continuou, poderia “ajudar ambos os lados a entender melhor as perspectivas econômicas globais e tomar decisões melhores para fortalecer nossas economias”.

No mês passado, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, também foi a Pequim em uma tentativa de aliviar as tensões com uma visita presencial após a reabertura das medidas restritivas da China para conter a pandemia.

Semanas após falar que não tinha “ilusões” com os EUA, Xi disse a Blinken durante o encontro que “os dois lados fizeram progressos e chegaram a acordos sobre algumas questões específicas”. “Espero que por meio desta visita, secretário, o senhor faça mais contribuições positivas para estabilizar as relações China-EUA”, completou o líder chinês.

Também neste sábado, Yellen disse a um grupo de economistas que estava em Pequim que, apesar de todas as divergências entre as nações, é do interesse de chineses e americanos um relacionamento melhor entre as potências. “É importante que continuemos alimentando e aprofundando esses laços, especialmente quando a China reabre após três anos de bloqueios devido à Covid-19.” A economia chinesa ainda patina na tentativa de recuperação após a crise sanitária, aumentando o risco de uma desaceleração global.

As tentativas de reaproximação, porém, ainda enfrentam alguns percalços. Pequim, por exemplo, se recusou a retomar os laços militares bilaterais enquanto as tarifas impostas aos produtos chineses durante a guerra comercial travada pelo antecessor de Biden, Donald Trump, permanecem em vigor –as comunicações militares entre as duas nações estão congeladas.

Na última segunda (3), Pequim anunciou que limitaria as exportações de gálio e germânio, dois metais usados em chips –dispositivos que seguem escassos devido aos impactos da pandemia. Junto a uma nova lei contra espionagem, a medida é vista como prejudicial para a indústria americana.