BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Francisco Wanderley Luiz, que planejou e executou um atentado na praça dos Três Poderes na quarta-feira (13), era um homem do bem, centrado, alegre e muito humanista. Ao menos é assim que o enxergavam seus irmãos. Mas Sônia, Maria Irlete e Rogério reconhecem que Tiu França, como era conhecido, havia mudado muito de comportamento no último ano.

O homem que detonou seu carro e se explodiu já foi candidato a vereador pelo PL em Santa Catarina e esteve no STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto. Chaveiro, ele disputou a eleição de 2020 com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC), mas não foi eleito.

Antes de morrer, publicou uma série de mensagens sobre o ataque, misturando declarações de cunho político e religioso.

Maria Irlete diz não entender como o irmão mudou tanto, a ponto de fazer o que fez. “Ele sempre foi irreverente, bom crítico, muito humanista, de querer o bem de todos “, afirmou ela à reportagem.

“Eu não sei em que momento isso aconteceu. Ainda mais quem é familiar: você vai convivendo e não sabe quando acontece a mudança. Ele andava passeando bastante.”

Uma das suas viagens foi para o acampamento de bolsonaristas em Brasília, em frente ao QG do Exército, de onde saiu o grupo que fez o ataque golpista de 8 de janeiro de 2023, de acordo com o irmão Rogério Luiz.

Ele não sabe, porém, se Tiu França estava na capital no dia da fatídica invasão ao STF, ao Congresso e ao Palácio do Planalto.

“Eu acredito que não. Ele esteve lá, mas acho que foi antes ou depois. Ele não tinha uma sequência de percurso por esses locais”, conta.

Francisco e o irmão costumavam ser bastante próximos, mas se afastaram nos últimos tempos. Muito por causa de uma visão de mundo distinta. Em diversas postagens nas redes sociais, o autor do atentado demonstrava alinhamento com discursos inflamados pela extrema direita.

Rogério diz que ele não tinha esse perfil violento, era educado, “mas o tempo foi talvez contaminando a cabeça”, segundo o irmão. “De um ano para cá, ele se tornou bem diferente do que ele era. Tanto é que eu digo para ti que eu não reconheço a pessoa que explodiu lá como meu irmão. Lá era outra pessoa, transtornada”, disse à reportagem Rogério Luiz, que é engenheiro florestal.

“Ele tinha muita amizade, era carismático, inteligente, mas eu já não conseguia interagir com ele, porque minha linha de raciocínio era uma e a dele já era outra”, conta Rogério, que tenta entender o que transformou o irmão.

“São peças que vão se acumulando na cabeça da pessoa, mas a gente ficou abismado de ter chegado nisso. A pessoa vai alimentando algo, tende a fazer algo, e aconteceu o que aconteceu. A pessoa que estava lá [na praça] não era o Tiu França. Ele mudou muito. Antes, era uma pessoa educada, gentil, que trabalhava”, continua Rogério.

Sônia, que mora no Paraná e por isso só tinha contato com o irmão pela internet, diz que ele vinha viajando muito. “Eu sabia que ele estava como a maioria dos brasileiros, com expectativa de mudança no Brasil, que qualquer um tem, que eu tenho, você tem, mas de ser fanático eu não sabia. Na verdade, eu não sabia nem que ele tinha sido candidato a vereador.”

À Polícia Federal uma ex-companheira do autor, chamada Daiane, declarou que ele queria atingir o ministro do STF Alexandre de Moraes. Rogério, o irmão, diz que não confia na informação da ex-cunhada, com quem Tiu França estava rompido.

“Se ele pensava dessa forma, ninguém da família estava ciente disso. Se ela soubesse disso, ela deveria comentar isso com a Justiça, falar: ‘Vamos evitar, vamos alertar para o que pode acontecer’. E ela não fez isso”, diz Rogério.

“Por isso eu acho que é inverdade. Não vou dizer também que ele não falou, não insinuou, como muitas pessoas insinuaram ou falaram, porque o Alexandre de Moraes está muito visado. Mas não era o caso dele. Ele não tinha esse perfil, de ser violento. Muito me estranha ele ter esses artefatos, ter feito algo premeditado.”

Apesar disso, Francisco havia sido condenado e preso por violência doméstica em 2014 em processo que está em segredo de Justiça. A vítima foi Daiane, com quem o chaveiro teve uma relação de idas e vindas, porém duradoura —tanto que ele agia como pai de um enteado.

A agressão ocorreu em 15 de dezembro de 2012, e Tiu França foi preso no mesmo dia e liberado mediante fiança. Condenado a três meses de prisão em regime semiaberto, não recorreu e cumpriu a pena de 1º de abril de 2014 a 30 de junho do mesmo ano.

A reportagem não conseguiu contato com Daiane.