SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Policiais civis e militares envolvidos na investigação do assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, afirmam que, em quatro dias, só aumentaram as suspeitas contra os PMs que realizavam a escolta dele.

Ainda conforme investigadores ouvidos pela reportagem, também cresce a expectativa para um pedido da Polícia Civil de prisão (preventiva ou temporária) dos integrantes da escolta, algo dado como praticamente certo por pessoas ligadas aos PMs.

Gritzbach foi morto no aeroporto de Guarulhos na última sexta (8). Ele era ameaçado pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e tinha fechado um acordo de delação premiada.

Para colegas dos policiais militares, a prisão deles seria a forma mais fácil de dar uma satisfação à opinião pública sobre o crime. Também serviria para tentar reduzir a pressão do governo estadual diante de uma crise de segurança. Eles dizem acreditar na inocência dos agentes.

Procurados, os advogados que representam os quatro PMs da escolta do empresário não responderam a reportagem.

Todos os cinco policiais ouvidos pela polícia negaram qualquer participação no crime e afirmam desconhecer quem teria atacado o empresário.

Na cúpula da Polícia Militar, entretanto, a opinião de coronéis ouvidos pela reportagem (com base em informações de inteligência e de equipes da Corregedoria) é a de que os policiais que faziam a segurança de Gritzbach estão muito envolvidos com o crime. Mas eles afirmam que ainda são necessárias provas concretas para ligá-los definitivamente aos assassinos.

Os detalhes das suspeitas não foram revelados.

Na manhã dessa terça-feira (12), o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou o afastamento de oito policiais militares envolvidos no caso, todos investigados pela Corregedoria da instituição. Os nomes ou patentes não foram divulgados.

Já na Polícia Civil, que conduz o inquérito do homicídio de Gritzbach, delegados e investigadores afirmam que os PMs são considerados suspeitos de maneira extraoficial, por conta das falhas no trabalho de segurança, que facilitaram o ataque contra o empresário.

Ao todo, cinco policiais militares participavam do trabalho de escolta de Gritzbach. Eles foram contratados de maneira particular pelo empresário, que não tinha direito a segurança oficial.

Quatro dos PMs estavam em veículos blindados que deveriam escoltar o delator do aeroporto até a sua. Um quinto agente viajou com o empresário para Alagoas, onde ficaram por sete dias.

Esse PM estaria à frente de Gritzbach e de sua namorada quando houve o ataque no aeroporto. Não há indícios de que ele tenha tentado reagir à emboscada, embora estivesse armado. Em depoimento à Polícia Civil, conforme informações do colunista Josmar Jozino, do UOL, o policial admitiu que correu quando os disparos começaram.

Conforme documentos obtidos pela reportagem, a equipe do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, que cuida do caso) perguntou para o PM porque ele não foi alvejado na emboscada. O agente disse acreditar que, talvez, os assassinos não teriam tido tempo de atacá-lo.

Para a Polícia Civil, um dos pontos cruciais na investigação é esclarecer se um dos veículos usados pela equipe de escolta de fato apresentou problemas mecânicos. Conforme relato dos PMs, a Amarok usada por eles teve uma pane na ignição e, por isso, três dos quatro agentes não puderam ir até o desembarque. Eles ficaram em um posto de combustível.

Apenas um PM da escolta seguiu em um segundo veículo, mas não chegou a tempo de impedir o crime.

Conforme a reportagem apurou, o veículo com suposta pane deve ser enviado para uma concessionária da Volkswagen para uma avaliação técnica.

A participação de policiais na morte do empresário é uma das linhas de investigação do crime, já que Gritzbach teria delatado um grupo de policiais civis em suposto esquema de corrupção.

Ao menos um delegado e dois investigadores tiveram os nomes citados pelo delator durante as tratativas do acordo para a delação premiada (com possibilidade de redução de pena).

O empresário teria áudios que comprovariam “ilicitudes e arbitrariedades” do delegado Fábio Baena e de “toda sua equipe”, como “Rogerinho, Eduardo Monteiro e outros”. A informação está em um item discriminado pelos advogados do delator como “Corrupção Policial”.

Documentos aos quais a reportagem teve acesso, apontam que policiais de três unidades diferentes da polícia foram delatados. O documento cita policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e 24º DP (Ponte Rasa), na zona leste.

Em tese, eles teriam cometido crimes como corrupção passiva e associação criminosa, “dentre outros”, diz trecho de documento da Promotoria.

A outra tese para a morte do delator seria uma ação de criminosos ligados ao PCC. Gritzbach teria ficado com uma grande fortuna de integrantes da facção, dinheiro transformado em criptomoedas, cuja chave criptografada só ele conhecia. O delator negava ter ficado com o dinheiro.