SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A moeda americana fechou próxima à estabilidade e a Bolsa terminou em queda, nesta terça-feira (12), após sessão volátil ao longo do dia, refletindo clima de cautela diante da espera por anúncio de corte de gastos e divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária).
O dólar fechou com alta de 0,05%, cotado a R$ 5,773. Já a Bolsa caiu 0,13%, aos 127.698 pontos, segundo dados da plataforma CMA.
O mercado se ateve às promessas do governo Lula de equilíbrio fiscal e à expectativa de que o ciclo de alta de juros no Brasil seja mais longo, como indicado na ata do último encontro do Copom.
A moeda americana iniciou a sessão em alta de 0,30%, cotada a R$ 5,787, mas diminuiu ganhos e manteve estabilidade no fim da manhã. Durante a tarde, manteve alta, mas voltou a estabilizar. Na máxima, chegou a R$ 5,798.
As atenções do mercado estiveram voltadas para a ata do Copom e discussões sobre corte de gastos por parte do governo federal -prometido em meados de outubro.
O colegiado do BC reforçou o alerta sobre os riscos fiscais e sinalizou que uma deterioração nas expectativas de inflação pode prolongar o ciclo de alta dos juros, acrescentando um elemento de incerteza para o mercado.
Na última quarta (6), o Copom decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank , essa expectativa de alta dos juros não impactou fortemente o câmbio, pois o mercado aguarda sinais sobre um possível anúncio de pacote fiscal pelo governo.
“O mercado está na expectativa por alguma sinalização, se haverá ou não algum anúncio de pacote fiscal ao longo dos próximos dias. Como não há nenhuma novidade nesse sentido, o mercado opera com cautela”, disse.
Nesta terça, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com o presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) para discutir os próximos passos na implementação do pacote de ajustes fiscais, esperado para esta semana.
As discussões sobre o conjunto de medidas para o ajuste fiscal chegaram à terceira semana.
A ideia é anunciar o pacote antes do embarque do presidente para o Rio de Janeiro, no fim desta semana, para os eventos relacionados com a cúpula do G20 -o Brasil ocupa a presidência do bloco e vai sediar a cúpula de chefes de Estado.
Economistas do Itaú Unibanco calculam que, para que o mercado financeiro tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto pelo governo, são necessários ao menos R$ 60 bilhões em cortes de gastos, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026.
O pacote pode incluir a tributação dos super-ricos e uma medida que limita o ganho real do salário mínimo à mesma correção do arcabouço fiscal -uma economia estimada de cerca de R$ 11 bilhões entre 2025 e 2026, caso o presidente dê o sinal verde.
O vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou, nesta terça, durante evento da COP 29, em Baku, no Azerbaijão, que o Brasil terá uma política fiscal rigorosa, e afirmou que o presidente Lula já deixou claro que o governo cumprirá o arcabouço fiscal.
Diante do contexto, o mercado engatou a semana na expectativa pela divulgação das medidas de contenção de despesas do governo federal.
Segundo Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos, as variações “tímidas” da bolsa e do dólar refletiram um clima de “muita ponderação” no mercado.
“Existe uma possibilidade de que a nova data para esse anúncio seja nesta quarta, já que o presidente Lula sinalizou que pretende incluir mais ministérios no pacote de ajustes. Diante disso, o mercado tende a manter um movimento lateral até que haja uma definição”, afirmou Teles.
Interlocutores no Palácio do Planalto apontam que não há mais necessidade de grandes reuniões com os ministros das áreas sociais e que a decisão agora depende exclusivamente do presidente Lula.
O presidente teve uma nova rodada de reuniões na sexta-feira com titulares de algumas pastas.
Participaram do debate os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Nísia Trindade (Saúde), Camilo Santana (Educação), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Carlos Lupi (Previdência) e o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
Na cena doméstica, as vendas no varejo também estiveram no radar.
As vendas varejistas no Brasil aumentaram 0,5% em setembro, voltando a crescer após um tropeço no mês anterior, mas ainda ficaram bem abaixo das expectativas de 1,1%, segundo pesquisa da Reuters.
Os dados foram divulgados nesta terça pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Já no contexto internacional, o mercado também esteve atento aos discursos de dirigentes do Fed dos Estados Unidos, que aconteceram ao longo do dia.
A fala de Christopher Waller, membro do conselho do Fed, e de Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis, são aguardadas com expectativa, pois poderão dar pistas sobre o futuro da política monetária americana.
As projeções das propostas de Trump na economia têm ajustado posições de investimentos nos mercados globais. O movimento é chamado de “Trump Trade”, que tenta prever quais serão os ativos mais favorecidos pela política econômica do republicano.
Até agora, ações em Wall Street, títulos do Tesouro americano, dólar e criptomoedas se valorizaram -em alguns casos, a patamares recordes.
Mas, para mercados emergentes como o brasileiro, o clima é de cautela. Isso porque, além da valorização do dólar, a proposta de aumentar as tarifas em ao menos 60% para produtos chineses pesa para países de forte pauta exportadora, que costumam ter a China como principal mercado consumidor.