SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A vitória de Donald Trump passou por seu fortalecimento em grupos demográficos dos Estados Unidos outrora vistos como bastiões democratas, como negros e latinos —eleitorados no qual a vice-presidente Kamala Harris obteve o pior desempenho de seu partido em décadas. Nas áreas com presença de imigrantes brasileiros, ele também cresceu.

Análise da Folha de S.Paulo com base em dados do censo americano mostra que a maioria dos 83 condados com brasileiros aptos a votar nas últimas eleições manteve o apoio ao Partido Democrata.

Por outro lado, Trump ganhou em mais desses distritos do que em 2020. Se há quatro anos o republicano levou apenas 9 dos 83 condados, desta vez foram 23, o que explicita o pior desempenho de Kamala na comparação com Joe Biden. Na disputa com Hillary Cinton, em 2016, o republicano havia obtido 16.

Não é possível saber, no entanto, como votaram esses eleitores brasileiros, que somam 118 mil em 23 estados, pois o voto é secreto, e os dados eleitorais são apresentados apenas de forma agregada, sem detalhar as preferências individuais dos diferentes grupos demográficos.

Dentre os 14 condados de presença brasileira que viraram o voto para os republicanos em relação a 2020, a maioria (10) fica em em estados do sul.

Pelo simbolismo, chama a atenção o de Maricopa, no Arizona, um estado-pêndulo. Na eleição passada, o distrito, que inclui a capital Phoenix, ficou conhecido nacionalmente pela demorada contagem de votos que no fim terminou com a vitória de Biden, e foi decisivo para o resultado.

Maricopa também foi um dos locais em que Trump tentou reverter o resultado do pleito, acusando em vão o condado de irregularidades eleitorais. Quatro anos depois, ele venceu lá.

Kamala obteve 25 milhões de votos nos 83 condados analisados, enquanto Trump conseguiu 17 milhões de votos. Uma diferença muito menor do que em 2020, quando Biden levou 32 milhões, e Trump, 18 milhões. Vale notar que o comparecimento às urnas nesse locais foi maior há quatro anos: 66,4% ante 64,5%.

A reportagem utilizou dados da pesquisa American Community Survey (ACS), realizada pelo Census Bureau, órgão responsável pela execução do censo americano.

Foram considerados brasileiros aptos a votar aqueles que afirmaram ter ascendência brasileira, maiores de 18 anos e que nasceram em território americano ou foram naturalizados nos EUA.

A pesquisa utilizada é amostral e possui margem de erro que varia de acordo com o condado analisado. Os dados fornecem uma fotografia estimada da população americana. Neste caso, foi utilizada a pesquisa de 2017-2021, realizada ao longo de 60 meses, garantindo maior precisão e informações mais detalhadas.

A ACS ainda possui uma limitação: os EUA consideram a nacionalidade não apenas pelo local de nascimento, mas também pela ancestralidade. A pesquisa não diferencia esses dois casos.

Portanto, foram considerados brasileiros tanto aqueles que nasceram em território estrangeiro e posteriormente se naturalizaram quanto americanos nativos que se identificam como brasileiros — possivelmente devido à ancestralidade.

A análise restringiu-se aos brasileiros maiores de 18 anos, idade mínima para votar nos EUA. Os dados eleitorais foram fornecidos pela agência de notícias Associated Press. A reportagem optou por usar os resultados da apuração dos votos na noite das respectivas eleições.