NICOLA PAMPLONA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Gavi, aliança global pelas vacinas, vê a ampliação da oferta de imunizantes contra a dengue como um dos principais desafios para a saúde global nos próximos anos, diante da chegada da doença a zonas de clima temperado como reflexo das mudanças climáticas.

Para a diretora-geral de Mobilização de Recursos e Crescimento da instituição, Marie-Ange Saraka Yao, o Brasil desponta como uma alternativa nesse esforço para diversificar a produção dos imunizantes, hoje concentrados pela farmacêutica japonesa Takeda.

“Nós precisamos de mais empresas para acompanhar a demanda”, disse Marie-Ange à Folha durante passagem pelo Rio de Janeiro para participar de reuniões do bloco de saúde do G20.

“Antes, a dengue estava concentrada na América Latina e um pouco da Ásia. Com a mudança do clima, agora tem dengue na Itália, no sul dos Estados Unidos, no sul da França. Eu venho do Costa do Marfim, e agora nós temos dengue lá.”

A Takeda tem anunciado negociações com laboratórios internacionais para produzir o imunizante. Em fevereiro, informou ter fechado acordo nesse sentido com a indústria indiana BE (Biological E. Limited).

Em outubro, a Fiocruz pediu ao Ministério da Saúde a produção nacional da vacina, também em parceria com o laboratório japonês. Marie-Ange diz que a expertise brasileira na produção de vacinas pode tornar o país um dos fornecedores internacionais desse imunizante.

Uma equipe técnica da Gavi esteve no Brasil este mês para debater o tema com a fundação. A aliança criada pela Fundação Bill e Melinda Gates incluiu o tema entre suas prioridades para os próximos cinco anos e planeja comprar grandes lotes de imunizantes para viabilizar a produção.

A diretora da Gavi avalia que as críticas ao governo brasileiro sobre a pouca oferta de vacinas para dengue são injustas, já que o problema é global. “Na verdade, o Brasil tem mais vacina contra a dengue do que o resto do mundo.”

As mudanças climáticas não terão efeitos apenas sobre a dengue e a Gavi espera contar com produção brasileira também para acompanhar o aumento da demanda por outras vacinas, como a de febre amarela, já disponível no país, ou outras ainda em fase de desenvolvimento, como a da malária.

“Mas a coisa boa é que há vacinas, então nós precisamos produzir mais. Precisamos produzir mais no Brasil. Do mesmo jeito que temos a Índia [como grande produtora] na Ásia, nós poderíamos ter o Brasil”, completa.