SÃO PAULO, SP (FOLHPRESS) – A democrata Kamala Harris já integra o rol de mulheres que fizeram a história política dos Estados Unidos como a primeira mulher negra candidata à presidência do país por um grande partido.
O ingresso de mulheres em sistemas de poder historicamente dominados por homens, como a política, o direito e a economia, é uma jornada que tem pouco mais de cem anos nos EUA.
Acompanhe a apuração em tempo real Ícones de movimentos em que abolicionismo e sufrágio se misturavam, essas são algumas das centenas de mulheres que movimentaram a vida política do país desde a sua fundação, em 1776, aos dias de hoje.
ABIGAIL ADAMS
Abigail Smith Adams foi esposa e conselheira de John Adams, segundo presidente dos Estados Unidos e um dos pais fundadores do país, para quem ela escreveu “lembre-se das mulheres” referindo-se à elaboração das primeiras leis norte-americanas.
Mulher e conselheira de John Adams, um dos pais fundadores dos Estados Unidos e o segundo presidente do país, Abigail Adams (1744-1818) era abolicionista e defensora dos direitos das mulheres. Em 1776, quando Adams e outros “Founding Fathers” preparavam o texto da Declaração de Independência dos EUA, ela pediu ao marido que “se lembrasse das mulheres”. Em outra carta, de 1778, escreveu a ele: “Não é preciso dizer o quanto a educação feminina é negligenciada nem o quanto está na moda ridicularizar o aprendizado feminino”. É mãe de John Quincy Adams, que se tornou o sexto presidente dos EUA.
MADELEINE ALBRIGHT
Primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária de Estado (chefe da diplomacia), em 1997, Madeleine Albright (1937-2022) foi uma refugiada da República Tcheca, de onde sua família fugiu duas vezes: dos nazistas em 1939 e dos comunistas em 1948, desta vez para os EUA. Professora de relações internacionais da Universidade Georgetown, ela representou os EUA no Conselho de Segurança da ONU no primeiro governo de Bill Clinton (1993-1997), onde era a única mulher. Como Secretária de Estado, defendeu intervenções militares da Otan, como aquelas em Kosovo, em 1999.
SUSAN B.ANTHONY
Ativista pioneira na luta pelo sufrágio feminino, Susan B. Anthony (1820-1906) foi presidente da Associação Nacional pelo Sufrágio de Mulheres e organizou protestos por direitos iguais, com foco no voto, seu lobby incansável no Congresso. Presa em 1872 ao conseguir se registrar e votar nas eleições presidenciais, seu processo judicial e ativismo deram ampla visibilidade à causa das sufragistas e pavimentaram o percurso até a 19ª Emenda à Constituição, de 1920, que garantiu direito ao voto a mulheres, 14 anos depois de sua morte.
IDA B.WELLS-BARNETT
Filha de um casal de ex-escravizados libertos ativos no Partido Republicano e zelosos da educação da família, Ida B Wells (1862-1931) foi uma Rosa Parks do século 19. Retirada à força de um vagão de primeira classe para o qual tinha o bilhete, processou a companhia ferroviária e se tornou ativista. Jornalista e sufragista, empreendeu uma cruzada contra os linchamentos nos EUA depois de investigação que terminou com sua casa incendiada. Em 1909, foi membro-fundadora da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, de 1909, pioneira da defesa dos direitos civis nos EUA.
RUTH BADER GINSBURG
Segunda mulher a ser nomeada juíza da Suprema Corte dos EUA, em 1993, Ruth Bader Ginsburg (1933-2020) ficou conhecida como Notória RBG por sua atuação nos tribunais pela igualdade de gênero no país e se tornou um ícone pop feminista, o rosto estampado em camisetas, bonés e canecas. Associada à União Americana de Liberdades Civis, especializou-se em litigância baseada em discriminação de gênero e, antes de ser nomeada juíza por Bill Clinton, ganhou casos importantes na Suprema Corte com base na 14ª emenda, que garante proteção igual a todos perante a lei.
SHIRLEY CHISHOLM
Primeira mulher negra eleita para o Congresso nos EUA em 1968, Shirley Chisholm (1924-2005) foi parlamentar pelo Partido Democrata por 14 anos sob o lema “unbought and unbossed” (“incomprável e indomável”). Dedicou seus mandatos a causas como igualdade racial e de gênero, salário mínimo para trabalhadoras domésticas e o fim da Guerra do Vietnã. Em 1972, foi a primeira mulher a concorrer às primárias do Partido Democrata para as eleições presidenciais.
HILLARY CLINTON
Primeira mulher indicada por um grande partido para a presidência dos Estados Unidos, em 2016, Hillary Clinton foi senadora democrata por Nova York (2001-2009) e Secretária de Estado (2009-2013) no governo de Barack Obama. Nascida em Chicago em 1947, formou-se em Direito e fez mestrado na Universidade de Yale, onde se interessou por direito da família e da criança e conheceu o hoje ex-marido Bill Clinton. Durante os dois mandatos do democrata como presidente, Hillary foi sua conselheira e manteve um escritório dentro da Casa Branca.
ROSA PARKS
Em 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks (1913-2005) se recusou a ceder seu assento num ônibus público a passageiros sem lugar na ala de pessoas brancas. Sua ousadia e coragem em tempos de segregação racial nos EUA a levaram à prisão e precipitaram o chamado boicote aos ônibus de Montgomery, no Alabama. Liderado por um então jovem pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968), foi o estopim do movimento pelos direitos civis nos EUA. O processo de Parks chegou à Suprema Corte em 1956, onde ficou decidido que a segregação racial em ônibus era inconstitucional.
ALICE PAUL
Propositora da primeira emenda à Constituição dos EUA sobre igualdade de direitos entre homens e mulheres, Alice Paul (1885-1977) era formada em Serviço Social quando viajou à Inglaterra para estudar. Lá, se envolveu com o movimento sufragista e foi presa três vezes em protestos. De volta aos EUA, aplicou essas táticas para promover uma emenda à Constituição sobre o sufrágio feminino. Criou o Partido Nacional das Mulheres, organizou passeatas e comícios e foi presa outras três vezes antes da ratificação da 19ª Emenda de 1920, que instituiu o voto das mulheres. Sua proposta de igualdade de gênero, de 1923, não foi aprovada, e Paul se voltou ao cenário internacional, criando o Partido Mundial de Mulheres.
CONDOLEEZZA RICE
Primeira mulher negra americana nomeada Secretária de Estado em 2004, por George W. Bush (2001-2009), Condoleezza Rice foi a mulher mais poderosa dos EUA nos anos 2000. Acadêmica das relações internacionais nascida no Alabama em 1954, foi antes a primeira mulher nomeada chefe do Conselho de Segurança Nacional, em 2001. Após os atentados de 11 de setembro, apoiou ataques dos EUA contra alvos terroristas e o talebã no Afeganistão e defendeu a derrubada do presidente iraquiano Saddam Hussein, que ocorreu na Guerra do Iraque (2003).
ELEANOR ROOSEVELT
Eleanor Roosevelt (1884-1962) foi mais do que a primeira-dama mais longeva dos EUA, durante os 12 anos de presidência de Franklin Roosevelt. Foi filiada à Liga Sindical Feminina e interessada em causas igualitárias de raça e gênero. Como primeira-dama, em 1933, criou coletivas de imprensa na Casa Branca para jornalistas mulheres, o que forçou agências de notícias a buscar profissionais do sexo feminino. Em 1945, após a morte do marido, foi nomeada delegada na ONU, onde se tornou presidente da Comissão de Direitos Humanos que redigiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
ZITKALA-SA
Escritora e reformista nascida no povo Yakton Sioux (Dakota do Sul), Zitkála-Sá (1876-1938) fundou e presidiu o Conselho Nacional dos Índios Americanos, em 1926, em prol dos direitos dos povos indígenas. Investigou e denunciou fraudes na apropriação de terras indígenas, o que levou à criação da Comissão Meriam do governo, cujas recomendações foram incorporadas à Lei de Reorganização Indígena de 1934. A lei reconheceu governos indígenas e acabou com abusos na lei de terras vigente.
SONIA SOTOMAYOR
Sonia Sotomayor é a primeira mulher de origem latina nomeada juíza da Suprema Corte dos EUA, em 2009, por Barack Obama. Nascida em Nova York em 1954 e filha de pais porto-riquenhos, cresceu numa habitação social no Bronx e diz que decidiu seguir a carreira jurídica por conta da série de TV Perry Mason, protagonizada por um advogado. Antes da Suprema Corte, Sotomayor foi juíza federal em Nova York e juíza em um tribunal de apelações, onde sua atuação lhe rendeu a fama de moderada.
HARRIET TUBMAN
Harriet Tubman (1820-1913) fugiu da escravidão no sul dos EUA e se tornou uma liderança abolicionista. Pela chamada “ferrovia clandestina”, rota que escravizados usavam para fugir para os estados abolicionistas, ajudou dezenas de pessoas a ganharem sua liberdade, e ficou conhecida como “Moisés de seu povo”. Durante a Guerra Civil (1861-1865), foi voluntária do Exército da União e espionou o campo inimigo dos confederados para entregar informações valiosas ao coronel Montgomery, ao lado de quem foi a primeira mulher a liderar uma operação militar nos EUA. Sua ofensiva resgatou mais de 700 escravizados de plantações.
JANET YELLEN
Janet Yellen foi a primeira mulher a presidir o Federal Reserve, nomeada por Barack Obama em 2014, e também a ocupar o cargo de Secretária do Tesouro dos EUA, nomeada em 2021 por Joe Biden. Nascida em 1946 em Nova York, se formou doutora em economia, lecionou em universidades como Harvard e Berkeley. Foi chefe do Conselho de Consultores Econômicos do presidente Bill Clinton e presidiu o Comitê de Política Econômica da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).