LEONARDO SANCHEZ

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Qualquer uma das composições de John Williams poderia ser o maior trabalho da carreira de qualquer outro artista. É o que diz um dos entrevistados de um documentário que homenageia o músico, lançado nesta semana no Disney+.

Ele é, afinal, responsável por várias das trilhas sonoras mais icônicas do cinema, como “Star Wars”, “E.T.: O Extraterrestre”, “Indiana Jones”, “Harry Potter”, “Tubarão”, “Super-Homem”, “Jurassic Park”, “A Lista de Schindler” e “Esqueceram de Mim”. Todas com temas marcantes que, sozinhas, já seriam capazes de consolidar o legado de um compositor.

Ao todo, são quase duas centenas de trabalhos assinados por ele, revistos agora em “A Música de John Williams”, um grande vídeo de bastidores com tons de homenagem lançado convenientemente pela Disney, que quer polir a franquia “Star Wars” num momento em que ela enfrenta problemas de popularidade.

“Não acho que Hollywood existiria da mesma forma como a conhecemos hoje se não fosse pela contribuição de John Williams em tantos filmes que se tornaram pilares do cinema”, diz Laurent Bouzereau, que dirige o documentário.

O francês vem seguindo a carreira do compositor de 92 anos de perto, graças ao seu longo trabalho produzindo conteúdo extra e comemorativo para os filmes de Steven Spielberg. Este, aliás, é quem mais ganha espaço em “A Música de John Williams”, já que os principais trabalhos do compositor são fruto do casamento entre eles, iniciado com “Louca Escapada”, em 1974.

Só pelos filmes de Spielberg ele venceu três das cinco estatuetas do Oscar que embolsou ao longo da carreira, e 18 das 54 indicações. O cineasta, porém, deixa claro em entrevista que, sem a música do amigo, cenas como a bicicleta voadora de “E.T.” e os ataques a banhistas de “Tubarão” jamais teriam a mesma força.

Spielberg ainda produz o filme, que reuniu uma constelação de estrelas em seus créditos. Ron Howard, J.J. Abrams, Chris Columbus, George Lucas, Alan Silvestri, Kathleen Kennedy, Thomas Newman e até o vocalista do Coldplay, Chris Martin, aparecem para dar lastro à contribuição de Williams para a indústria cinematográfica. Mas não só.

Parte importante da tarefa de Bouzereau foi se certificar de que outras facetas menos conhecidas de Williams estariam no documentário, incluindo suas origens no jazz. O violoncelista Yo-Yo Ma e o maestro Gustavo Dudamel, por sua vez, estão lá para lembrar os amores e as disputas entre ele e o universo da música clássica.

Há quem ainda hoje desdenhe das composições assinadas pelo americano. Música de cinema, para alguns, não deve ser equiparada à música clássica, defende um discurso destacado em determinado momento do filme. Para isso, Bouzereau recupera o pedido de demissão de Williams da orquestra Boston Pops, em meio à insubordinação de alguns de seus músicos mais conservadores.

Williams não deveria ser visto como um traidor da música clássica, defendem os entrevistados, mas como alguém que lutou para garantir que seus acordes chegassem ao público mais amplo possível, comprovando seu apelo indiferente a classe social.

E foi justamente em sua carreira longe dos cinemas que Williams mais experimentou, criando partituras abstratas e hoje executadas mundo afora. Se em Hollywood ele recuperou as grandes orquestras, num momento em que outros compositores preferiam sons sintéticos e minimalistas, nas salas de concerto ele se permitiu brincar.

Este é um dos motivos para Williams ser um personagem notável, defende Bouzereau. “Pense bem, quantos compositores conseguiram conquistar gerações de plateias e de artistas tão diferentes? Ele vem impactando amantes de cinema e de música dos anos 1960 até os dias de hoje. É algo único.”

A MÚSICA DE JOHN WILLIAMS

– Onde No Disney+

– Classificação Livre

– Produção EUA, 2024

– Direção Laurent Bouzereau