RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A cela onde Tiradentes ficou preso por três anos, antes da condenação por enforcamento, segue quase intacta na Fortaleza de São José, na ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.
Feita de pedra e tijolos antigos, o espaço de cerca de dois metros quadrados é úmido, pouco recebe luz natural e tem apenas duas pequenas passagens de ar. É uma caverna vazia numa fortaleza movimentada por militares dia e noite.
Pedaço de terra ao lado da baía de Guanabara, a Fortaleza de São José, hoje sede do Comando-Geral dos Fuzileiros Navais, completa 400 anos nesta sexta-feira (1°).
“Por volta de 1760, a ilha começou a funcionar como um presídio. Tiradentes ficou aqui três anos. Depois, foi para a Cadeia Velha, onde hoje é o Palácio Tiradentes, para ser julgado, condenado à forca e esquartejado”, conta o diretor do museu do Corpo de Fuzileiros Navais, o capitão de corveta Esley Rodrigues.
A ilha das Cobras foi, nos séculos 16 e 17, um entreposto de madeira e pessoas escravizadas. No século 18 virou uma fortaleza primitiva, encravada numa ilha no meio da Guanabara.
Hoje, com parte da baía aterrada, ela fica perto da terra. Uma ponte faz a ligação entre a ilha e a orla Conde, no centro do Rio.
O nome ilha das Cobras foi dado por monges do mosteiro de São Bento, primeiros donos do terreno. Diziam que a terra tremia de tantas cobras.
Hoje elas não aparecem mais por lá. O que amedronta são as assombrações de ex-marinheiros e almirantes que passeiam pelo local de madrugada, segundo os fuzileiros.
A Fortaleza de São José foi fundada em 1624, diante do temor português de uma invasão holandesa no Rio de Janeiro. Naquele ano, esquadras dos Países Baixos invadiram Salvador.
“A ideia era formar um cinturão de defesa na baía, com outras fortificações que já existiam nas terras que hoje formam o Rio de Janeiro e Niterói”, afirma o capitão Esley.
A invasão holandesa ao Rio não passou de ameaça, mas as tentativas de corsários franceses ocorreram.
Em 1711, uma expedição de René Duguay-Trouin tomou o Rio de Janeiro. Ele chegou pela baía de Guanabara, entrou na ilha das Cobras, àquela altura terreno do mosteiro, e apontou canhões em direção à cidade. Pediu um resgate em dinheiro, que lhe foi pago, para não atacar.
A fortaleza servia para levar ouro escondido até as embarcações, através de túneis apertados, de pouco mais de um metro de altura, que ainda existem.
Hoje o labirinto no subsolo abriga o museu dos fuzileiros navais, que será reinaugurado também nesta sexta. O evento de aniversário terá apresentações da Banda Marcial e Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais.
Além do túnel original, o prédio principal tem paredes bicentenárias e um antigo salão nobre, ainda usado para encontros de almirantes com autoridades.
A Fortaleza de São José abriga comando dos fuzileiros navais. Em outras partes da ilha das Cobras ficam o hospital, a cadeia e o arsenal da Marinha.
Considerada uma das vistas mais bonitas do Rio, com visão para o Pão de Açúcar, a Ponte Rio-Niterói e toda a baía de Guanabara, a ilha das Cobras é ocupada há 215 anos pelos fuzileiros navais. Chamado de Brigada Real da Marinha nos tempos do império, o Corpo de Fuzileiros passou a ocupar a área em 1809, um ano após a família real portuguesa desembarcar no Brasil fugida das tropas napoleônicas.
O contra-ataque da família real à invasão em Portugal se deu quando as tropas imperiais tomaram Caiena, na Guiana Francesa, matando militares e rendendo o governador.
Como prêmio, a família real deu aos guardas da Marinha a ocupação de parte da ilha. Caiena esteve sob o domínio português de 1809 a 1817.
A fortaleza foi um dos centros de efervescência da Revolta da Armada, movimento de setores da Marinha contra o então presidente Floriano Peixoto, em 1893.
“Esse prédio foi atingido por tiros de navios da Revolta da Armada. Há fotos do prédio completamente destruído e o portão atingido”, diz o capitão Esley.
Também foi palco da Revolta da Chibata, em 1910. João Cândido e outros marinheiros que participaram do movimento ficaram presos na cadeia da Marinha, na ilha das Cobras.
Mais de cem anos depois das revoltas, o efetivo de fuzileiros navais no Brasil é de aproximadamente 17 mil militares. A Marinha tem cerca de 70 mil.