GUILHERME GENESTRETI

SALEM, EUA (FOLHAPRESS) – Nos dias que precedem o Halloween, no fim de outubro, a cidade americana de Salem cheia de gente. Muitas delas vestidas a caráter. E a decoração das lojas segue a mesma onda.

A meia hora de trem de Boston, no estado de Massachusetts, a localidade é conhecida como a cidade das bruxas. Tem museu, tem passeio, tem escape room —tudo temático, com essa pegada de filme de terror.

Mas, apesar da vibe descontraída, a origem da relação da cidade com as bruxas é bem sinistra.

Em 1692, quando esse território ainda fazia parte da colônia britânica, mais de 20 pessoas foram mandadas à forca sob a acusação de bruxaria, a maioria delas mulheres.

Tudo começou quando algumas meninas da comunidade começaram a apresentar convulsões sem nenhuma razão aparente. Dada a religiosidade extrema da população local, puritana, não demorou para que vissem nesses comportamentos sinais de feitiçaria e influência diabólica.

O pânico coletivo se espalhou e resultou em prisões e julgamentos hoje tidos como injustos.

Betty Parris e Abigail Williams, filhas de famílias importantes dali, começaram a acusar outras pessoas de bruxaria, dando início a julgamentos que envolveram mais de 200 réus. A maior parte dos condenados era inocente e acabou vítima de um sistema de justiça caracterizado por acusações frágeis, provas subjetivas e um forte sentimento de pânico coletivo.

Os bastidores dessa historia toda são intrincados: envolvem, além da religiosidade extrema, disputas pelo poder entre as famílias locais e o medo do desconhecido —não podemos nos esquecer que os colonos de Salem estavam cercados por populações nativas e temiam ataques.

Alguns historiadores acreditam até que alimentos contaminados por fungos podem estar por trás das alucinações que algumas das meninas de Salem sofreram e que, na época, elas associaram à magia.

Mais de 300 anos depois, a cidade ergueu memoriais em homenagem às vítimas, abraçou essa identidade e hoje lucra bastante em função do turismo macabro, especialmente na época de Dia das Bruxas.

O marketing é tanto que é difícil encontrar o que é genuíno em meio à vasta oferta de casas mal-assombradas, casas do terror e lojas vendendo mil quinquilharias. Não restam casas da época dos julgamentos de Salem, mas o museu Peabody Essex, bem no centro da cidade, é o local ideal para quem quer desbravar a história da caça às bruxas, com bastante material informativo.

O jornalista viajou a convite do Brand USA