SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não é difícil se deparar com rostos familiares pelos corredores do Centro Cultural Coreano no Brasil (CCCB), em São Paulo. Os que o visitarem serão recebidos por celebridades como a atriz Fernanda Montenegro, o jogador de futebol Pelé, a dupla de cantores Chitãozinho & Xororó, e até mesmo personagens clássicos do mundo das artes, como a Monalisa. Todos trazem algo em comum: são versões determinadas pelo olhar da artista sul-coreana, Jung Eun-Hye.

Após passar por países como Hong Kong, Singapura e Nova York, a exposição “Maravilhosa Graça em Todo o Globo” está em cartaz no CCCB até fevereiro de 2025, e apresenta os trabalhos da caricaturista. Com composições geralmente carregadas de tons quentes, em paisagens abstratas e de saturação forte, ela abstrai os rostos em que se baseia e os apresenta de forma não realista.

“Para desenvolver caricaturas, você precisa se encontrar com as pessoas. A Eun começou a desenhar em 2016, em um mercado coreano muito conhecido. A partir daí, ela começou a frequentar lugares movimentados, onde conhecia muita gente. Em um ano, conseguiu desenhar mil pessoas”, diz Jang Hyun Sil, mãe da desenhista.

Ela explica que Eun-Hye, como pessoa com síndrome de Down, tem dificuldades em se comunicar, e encontrou uma linguagem própria na arte. Sil tem o costume de ajudar a filha em suas viagens, exposições e entrevistas, e a família toda sempre ofereceu muito apoio.

“A maioria das pessoas que lidam com a deficiência tem alguma dificuldade de conversação. A conversação através da língua é uma desvantagem para ela. O desenho se torna a sua língua”, afirma a mãe.

Segundo ela, as obras ajudaram a família em um momento de crise financeira e quando os efeitos psicológicos da filha se acentuavam. “Quando terminei o Ensino Médio, me senti muito sozinha e passava muito tempo em casa. Parecia não ter para onde ir”, conta Eun-Hye

Delineadas por uma série de tracejados -ainda mais evidentes nas obras em preto e branco- essa relação entre ela e as caricaturas se traduz na ideia das “linhas relacionais”. “A caricatura é um desenho que naturalmente exige muitas linhas. Eun-Hye desenvolveu uma forma própria de desenhá-las. Ela desenha com a sua intuição”, explica Sil.

Independente da nacionalidade, é interessante observar como os desenhos de Eun-Hye possuem uma identidade particular. Seja pelo contorno dos rostos, pela dimensão das roupas ou pela composição com objetos temáticos, seus desenhos estabelecem uma relação com os retratados. “A Eun gosta de explicar o processo e a escolha das linhas para as caricaturas. Não são explicações sobre o significado dos quadros. Ela fala da relação que estabeleceu com quem desenha”, diz a mãe.

Não é por acaso que a exposição chegou ao Brasil. Em 2021, durante a pandemia, Eun-Hye procurava pessoas pela internet e conheceu artistas de outros países. Foi assim que encontrou o diretor brasileiro e produtor artístico Cleber Papa, um dos idealizadores de “Maravilhosa Graça”. Ele se apaixonou pelas artes de Eun-Hye e sugeriu que o CCCB trouxesse a exposição.

A montagem no Brasil surgiu como uma oportunidade para ela, seus pais e seu irmão conhecerem o país. Viajando sempre juntos, a arte, em suas diferentes áreas, parece surgir como elemento comum. Seu pai, Seo Dongill, trabalha como documentarista e o irmão, Seo Eun Baek, é estudante de cinema. Ele ajuda a irmã com um canal no YouTube, onde são documentadas as suas peças e os processos de realização.

“Tenho tido muita sorte na criação dos vídeos, e queria compartilhar esse sucesso com os outros. Por conta disso, tenho tentado filmar outras pessoas que lidam com deficiências e frequentar centros de apoio. Não é uma tarefa fácil, mas persisto nela”, conta Baek.

Apesar da relação com o irmão, não é do YouTube que Eun-Hye está familiarizada com o vídeo. A desenhista também desenvolve uma carreira enquanto atriz, que teve seu início quando a roteirista Noh Hee-kyung conheceu o seu trabalho em uma exposição. Ela desenvolveu um papel especial para a caricaturista no seriado coreano “Our Blues”. Hoje ela é referência na Coreia do Sul, enquanto artista com síndrome de Down.

Uma das áreas da exposição é dedicada a recriar um pequeno vagão de trem, símbolo muito presente na série. Propondo uma espécie de espaço imersivo, os visitantes podem observar obras e fotografias da artista e sua família em diferentes épocas. Ao lado, uma mesa com materiais de confecção convida o público a se inspirar nas caricaturas e criar os seus próprios desenhos.

MARAVILHOSA GRAÇA POR TODO O GLOBO

Quando Ter. à sex., das 13h às 17h e sáb., das 10h às 13h e das 14h às 18h

Onde Centro Cultural Coreano do Brasil – Av. Paulista, 460, São Paulo

Preço Grátis

Classificação Livre

Autoria Jung Eun-Hye