CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – O motorista do caminhão envolvido no acidente na BR-376 que matou nove pessoas, na noite do domingo (20), disse à Polícia Civil do Paraná nesta terça-feira (22) que perdeu o controle do seu veículo. Segundo ele, horas antes do acidente, o caminhão já tinha apresentado “diversas falhas mecânicas”. Por isso, ele alega que não conseguiu impedir a batida na traseira da van que levava uma equipe de remo. Das dez pessoas que estavam na van, apenas uma sobreviveu.

Segundo o delegado Edgar Santana, responsável pela investigação, o motorista relatou que saiu de Santos (SP) no sábado (19) e, no domingo, já no estado do Paraná, precisou parar na rodovia por problemas mecânicos. Um mecânico, que ainda será ouvido, fez o conserto do caminhão.

“Mais tarde, o veículo começou a apresentar problema de novo e o mesmo mecânico fez o conserto. A partir daí, ele seguiu viagem e, nas proximidades da serra, o problema voltou a ocorrer. Ele tentava engatar as marchas e algumas terminavam não entrando. Ele perdeu o controle e, com excesso de velocidade, houve o impacto na traseira da van”, disse o delegado.

Ele transportava uma carga de peças de veículos e tinha a Argentina como destino.

O motorista, que tem 30 anos e não teve o nome divulgado, já tinha sido convocado para se apresentar à unidade da Polícia Civil em Guaratuba (PR) nesta segunda-feira (21) às 13h, mas ele não compareceu. Na tarde desta terça, ele foi ouvido por videoconferência. O depoimento durou cerca de uma hora. O inquérito apura eventual crime de homicídio culposo.

Ele também mora em Pelotas (RS), cidade das vítimas.

O delegado conta que o motorista chorou em alguns momentos do depoimento.

Segundo o investigador, é necessário aguardar a conclusão da perícia para confirmar ou não a versão do motorista. “Precisamos aguardar o laudo da Criminalística em relação ao exame pericial do veículo para constatar se houve mesmo uma falha mecânica ou não”, explicou ele.

O motorista disse à polícia que obteve a carteira de habilitação na categoria “E” em março deste ano. O proprietário do caminhão também foi ouvido na tarde desta terça e confirmou que o motorista havia reportado problemas mecânicos.

“Ele [proprietário do caminhão] disse que tomava as providências devidas no sentido de procurar um mecânico para fazer o conserto”, afirmou o delegado.

O dono da carreta também afirmou que teria contratado o motorista de maneira informal, em um acordo verbal. Era o primeiro serviço combinado entre eles.

O acidente envolveu três veículos: o caminhão (uma carreta contêiner), uma van com dez pessoas e um veículo de passeio. A carreta bateu na traseira da van, que foi projetada à frente e colidiu na traseira do automóvel, conduzido por um homem que estava sozinho e não se feriu. Em seguida, a carreta arrastou a van para fora da pista, tombando sobre ela.

O acidente ocorreu no quilômetro 665 da BR-376, em Guaratuba (PR), na pista sentido sul, em direção a Santa Catarina, por volta das 21h30 de domingo. A van havia saído de São Paulo e estava em direção a Pelotas (RS).

A Polícia Rodoviária Federal afirmou que o trecho não é considerado de maior risco. “É um trecho sinuoso e em declive, mas com redução de velocidade máxima para 60 km/h e com sinalização suficiente”, afirmou a PRF, em resposta à reportagem.

Segundo a instituição, entre janeiro e setembro de 2024, ocorreram outros seis acidentes naquela mesma região (no trecho entre os quilômetros 665 e 666 da BR-376), com oito feridos e sem mortes. Dos seis acidentes, cinco envolveram caminhões. Entre janeiro e setembro de 2023, o mesmo trecho registrou 13 acidentes (oito envolvendo caminhões), com 16 feridos e uma morte.

De acordo com a PRF, 443 pessoas perderam suas vidas em acidentes em rodovias paranaenses entre janeiro e setembro de 2024, 32 a mais do que no mesmo período de 2023.

Após o acidente, o motorista da carreta e um dos atletas que estavam na van foram resgatados com ferimentos leves e levados ao Hospital Municipal São José, em Joinville (SC).

O motorista recebeu alta médica na manhã de segunda-feira (21). Já o adolescente de 17 anos deixou o hospital por volta das 22h30 de segunda, quando a mãe dele chegou ao local. A família retornou ao Rio Grande do Sul em um avião da Brigada Militar do Estado gaúcho.

A maior parte das vítimas era formada por adolescentes que viajaram para participar do Campeonato Brasileiro Unificado, na Raia Olímpica da USP. Mais de 30 clubes brasileiros estavam na competição.

O grupo está ligado ao projeto Remar Para o Futuro, criado em 2015 e que estava sendo coordenado pelo técnico Oguener Tissot, uma das vítimas.

A Prefeitura de Pelotas é uma das apoiadoras do projeto, junto à UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e ao clube Centro Português 1º de Dezembro, que os atletas representavam. O velório coletivo está sendo realizado na sede do clube nesta terça-feira (22).

QUEM ERAM AS VÍTIMAS

– Samuel Benites Lopes, 15

– Henri Fontoura Guimarães, 15

– João Pedro Kerchiner, 17

– Helen Belony, 20

– Nicole da Cruz, 15

– Angel Souto Vidal, 16

– Vitor Fernandes Camargo, 17

– Oguener Tissot (técnico da equipe), 43

– Ricardo Leal da Cunha (motorista da van), 52