RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O conselheiro TCE-RJ Domingos Brazão afirmou nesta terça-feira (22) que preferia ter morrido no lugar da vereadora Marielle Franco (PSOL) em razão dos efeitos do caso sobre sua família. O depoimento se deu no âmbito da ação na qual ele é acusado de ordenar a morte da parlamentar.

Aos prantos em interrogatório ao STF (Supremo Tribunal Federal), Brazão disse que o ex-PM Ronnie Lessa, ao lhe apontar como mandante do crime, fez mais mal à sua família do que à da vereadora. Ele nega a acusação e disse que ele tenta proteger o ex-vereador Cristiano Girão, preso após investigações da CPI das Milícias.

“Se esse homem tivesse me matado no lugar da Marielle, ele teria causado um mal menor à minha família. O que ele está fazendo com a minha família é um mal maior do que se ele tivesse me matado no lugar da Marielle”, disse Brazão.

“Preferia ter morrido no lugar da Marielle. Pelo menos teria morrido com dignidade. O que ele está fazendo com a nossa família é nos enterrar vivo. […] O que ele fez com a gente foi pior do que o que ele fez com a família da Marielle e do Anderson. Não sei como ele dorme.”

Domingos e o irmão, o deputado Chiquinho Brazão (sem partido), são acusados de encomendar a morte da vereadora após um acúmulo de divergências políticas entre os irmãos Brazão e o PSOL. Marielle, segundo as investigações, atuou para dificultar a exploração de terrenos ilegais da família.

O delegado Rivaldo Barbosa, à época chefe da Polícia Civil, é acusado de ter auxiliado no planejamento do crime, assim como outros dois policiais militares.

Os cinco foram acusados com base na delação do ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora. Como a Folha de S.Paulo mostrou, trechos centrais do relato do colaborador não contaram com provas de corroboração.

“Me perdoe a família da Marielle. Mas ele fez pior com a gente. A Marielle, mesmo com pouco tempo de trabalho político, ela ficou muito mais reconhecida ainda. Depois da morte, procuraram saber quem era ela. Tenho certeza que se ele tivesse me matado no lugar da Marielle, seria o contrário. Estaria cheio de homenagens lá no Rio. O que a família Brazão já fez nas comunidades. Mas ele fez pior com a gente”, disse Domingos Brazão.

O conselheiro do TCE-RJ se emocionou ao negar ter se encontrado com Lessa numa rua perto de sua casa, como ex-PM apontou em sua delação. Segundo o relato do colaborador, ele e o irmão tiveram dois encontros antes do homicídio para detalhar sua execução.

“Jamais ia envolver o meu irmão. Quando íamos nos associar para cometer um crime desta natureza? Como isso pode entrar na cabeça de alguém que tenha família? Que tipo de pessoas estão tentando dizer que nós somos? Que tipo de gente que nós somos?”, disse o conselheiro.