BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Na reta final do segundo turno das eleições municipais, o presidente Lula (PT) tem feito gestos a não petistas, a aliados desde antes da campanha eleitoral e também a segmentos como o dos evangélicos.

O movimento ocorre enquanto a cúpula da PT tece críticas a escolhas do partido na eleição e até ironiza a aliança com Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, esse atrás nas pesquisas de intenção de voto.

O partido sofreu derrotas no primeiro turno, chegando ao comando de apenas 248 prefeituras até agora, e aguarda o resultado final para uma reflexão mais detalhada do cenário.

Lula, por outro lado, atua de forma mais pragmática, o que tem sido ecoado por aliados e se confirma em sua agenda. O presidente tem dito a interlocutores, desde o início do ano, que a prioridade na eleição municipal era não implodir pontes com aliados e manter a chamada “frente ampla” unida.

Esta foi uma das justificativas dadas, inclusive, para ele ter participado timidamente em campanhas no primeiro turno.

Neste segundo turno, ele viajou para cidades para apoiar aliados, petistas ou não, contra o bolsonarismo. Também recebeu no Palácio do Planalto evangélicos, segmento que representa dificuldades para o governo, além de prefeitos de outras legendas.

Lula foi a Fortaleza (CE), onde apoia Evandro Leitão (PT); a Camaçari (BA), com Luiz Caetano (PT); a Belém (PA), com Igor Normando (MDB); e a São Paulo (SP), cidade considerada chave para o Planalto.

Já no Palácio do Planalto, Lula comandou cerimônias de sanções de leis nesta semana que o aproximou de antigos e novos aliados. Uma delas foi a que inclui o político pernambucano Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 2014, no livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

O ato contou com a presença do prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), filho de Eduardo. Os dois conversaram rapidamente ainda a sós. Campos, reeleito com quase 80% dos votos, é tido como um importante aliado e foi escalado pelo PT para ajudar em capitais onde há segundo turno.

Campos foi a Fortaleza (CE), na terça-feira (15), fazer campanha para Leitão. Vai ainda na próxima semana a Belém reforçar apoio a Normando e também a Natal, na quinta (24), em prol da petista Natália Bonavides.

No mesmo evento, estava a deputada Tabata Amaral (PSB-SP). Considerada aliada do Planalto, ela esteve do outro lado na disputa da capital paulista no primeiro turno, contra Boulos, e terminou em quatro lugar, com 10% dos votos.

A avaliação de auxiliares de Lula é de que ela saiu maior do que entrou na disputa e que fez uma campanha forte. Tabata recebeu cumprimentos de ao menos quatro ministros de governo.

A eleição carioca, com a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD), trouxe de certa maneira um gesto ao setor do evangélico. Na cerimônia de sanção da lei que cria o Dia Nacional da Música Gospel, Otoni de Paula (MDB-RJ) fez diversos elogios a Lula. Importante líder da região e bolsonarista até então, Otoni apoiou Paes no Rio de Janeiro.

Otoni fez uma oração com outros fieis a Lula, que rendeu ao presidente a forte imagem ao lado do evangélicos desde o início de sua gestão.

Paes também esteve com Lula. Em entrevista à reportagem, disse ver meios de reaproximar Lula do eleitorado evangélico e de lideranças do segmento. Sua vitória teve grande participação de fieis e de pastores, inclusive com apoio de Otoni.

Lula recebeu em seu gabinete quatro prefeitos nesta semana, todos fora da agenda oficial. Apenas um deles era petista: Andrezinho Ceciliano, de Paracambi (RJ), filho do secretário de Assuntos Federativos, André Ceciliano.

Waguinho (Republicanos), prefeito de Belford Roxo (RJ), esteve com Lula. Aliado de primeira hora, ajudou o petista na campanha de 2022. Ele tentou emplacar seu sobrinho Matheus do Waguinho (Republicanos) como sucessor na prefeitura, mas foi derrotado por Márcio Canella (União Brasil).

Nas redes sociais, publicou uma foto ao lado de Lula e reforçou a aliança. “Estamos prontos para, juntos, dar todo o apoio necessário em 2026, enfrentando o ódio e o negacionismo que infelizmente ainda permeiam nossa sociedade”, disse.

O presidente também recebeu o ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (MDB) no Planalto. O objetivo da sua visita, segundo Pezão, foi pedir recursos para obras no município de Piraí (RJ), para o qual foi eleito.

“O presidente estava no bom humor tremendo, relembrando os tempos PAC na favela do Rio, onde eu era governador, a presidenta Dilma [Rousseff] era a chefe da Casa Civil. Ele falou, ‘vou fazer de Piraí um condomínio meu lá, vou deixar a cidade um brinco'”, disse.