SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Médicos que atendiam na rede municipal foram demitidos após a Prefeitura de São Paulo revogar a situação de emergência da dengue na cidade.

Segundo o Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), os cortes foram anunciados a partir do último dia 4, às vésperas do primeiro turno das eleições.

Os profissionais atendiam casos de dengue, mas também a demandas de saúde diárias de pacientes. O total de cortes ainda é levantado pelo sindicato. Até agora, eles foram registrados na zona oeste e norte da cidade.

Os médicos foram contratados a partir de abril para dar reforço em UBSs (Unidade Básica de Saúde), AMAs (Assistência Médica Ambulatorial) e Centros de Saúde.

A revogação da situação de emergência da dengue foi publicada na segunda-feira (7) passada pelo secretário municipal da saúde, Luiz Carlos Zamarco, nomeado por Ricardo Nunes (MDB) em 2022.

A pasta confirma as demissões. “Com a redução de pacientes sintomáticos e a queda contínua nos casos confirmados de dengue nas últimas semanas, a estrutura emergencial foi desmobilizada, incluindo o desligamento de alguns profissionais temporários”, afirma em nota.

A secretaria acrescenta que, caso haja novo aumento de casos da dença, o serviço poderá ser reativado. O investimento municipal no combate à dengue foi R$ 430 milhões, entre contratações, insumos, exames e tendas de atendimento.

O contrato com os profissionais era intermediado por OSS (Organização Social de Saúde), que prestam serviço à prefeitura. Desde abril, elas recebiam repasses mensais para manter as contratações.

Na zona norte, todas as AMAs da organização social ASF (Associação Saúde da Família) tiveram médicos extras afastados, diz o sindicato. Na zona oeste, sete UBSs registraram cortes. O sindicato prevê reduções em mais regiões da cidade.

O médico Guilherme Barbosa, funcionário municipal no Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa, no Butantã, afirma que o profissional adicional havia melhorado o fluxo de atendimentos. “Agora está um caos”, diz. A equipe médica só soube que ficaria sem o reforço na última semana.

Outro médico, que não quis ser identificado, foi dispensado da UBS Vila Dalva, também na zona oeste, onde atendia a uma média de 35 pacientes às sextas-feiras. O contrato dele era como PJ (Pessoa Jurídica) com uma empresa contratada pela organização social.

Ele afirma que desde agosto atendia principalmente casos de quadros respiratórios devido à queda na qualidade do ar. “Nós tivemos que dar conta da unidade e dos agendamentos. Foi bem exaustivo, mas a gente deu conta”, diz.

Nos dois casos, os hospitais são administrados pela organização social SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina).

Apenas para contratação de médicos para as UBS na zona oeste, a prefeitura previu repasses de mais de R$ 2 milhões à organização para desafogar os atendimentos.

No total, o plano municipal previu R$ 108 milhões para todas as OSS do município para conter a dengue, em fevereiro. Além de contratações, os valores também ampliaram o horário de atendimento de algumas AMAs para as 22h. Os repasses eram renovados e feitos mensalmente.

Para o presidente do Simesp, Augusto Ribeiro, as contratações foram mantidas mesmo com a queda nos índices de dengue. O motivo, afirma, seria evitar filas no período pré-eleitoral, iniciado oficialmente em agosto. “Não existe um motivo para eles estarem escalados na semana passada e não estarem nessa”, diz.

Em maio, a cidade de São Paulo se tornou o epicentro da dengue, com 296.763 casos confirmados e 137 mortes pela doença. Em termos históricos, a cidade nunca havia atingido esta marca.

Já em agosto, o número despencou para uma morte confirmada e 2.856 caos prováveis de dengue. Em setembro, nenhuma morte foi confirmada, 3 ainda estão sob investigação e 1.952 casos prováveis da doença provocada pelo Aedes aegypti estão em análise.

Desde o início do ano, a capital já teve 365 mortes confirmadas por dengue. Os dados são do Ministério da Saúde.