SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após mais de 40 horas sem energia, comerciantes de São Paulo contam os prejuízos e gastam para tentar manter seus negócios abertos em meio a mais um apagão na cidade. Os problemas começaram após o temporal que varreu a cidade na noite de sexta-feira (11) e persistia até o início da tarde deste domingo (13).

Na tentativa de minimizar prejuízos, o comerciante Davi Lin, 42, contratou um gerador para poder abrir seu mercado na alameda Eduardo Prado, em Campos Elíseos, centro de São Paulo. Com um custo de R$ 6.000 a cada oito horas, o equipamento virou peça vital para manter as portas abertas neste fim de semana.

– Temporal atingiu 17 linhas de alta tensão, e Enel não dá prazo para retomar energia em SP

– Apagão em SP une governo Lula, Tarcísio e Nunes em pressão por fim de concessão da Enel

– Moradores contabilizam prejuízo após tempestade e apagão em SP

Além disso, estimou um prejuízo de R$ 3.000 com frangos e frios que teve que descartar por terem ficado sem refrigeração.

Neste sábado (12), o local funcionou apenas por duas horas, entre 19h e 21h, depois da chegada do equipamento.

Um edifício residencial em frente ao mercado também estava sem luz. Os moradores se queixaram que, sem energia, também não tinham água, pois a bomba parou de funcionar.

“Estou revoltada. Não tem luz, água. Uma vergonha. Quem vai pagar o prejuízo, joguei fora comida, iogurte, requeijão”, disse a diarista Mônica Oliveira, 53.

“Estamos comprando água, carregando celular no mercado e tomando banho em parente”, acrescentou.

Na rua Lisboa, em Pinheiros, o apagão alterou a cena de um restaurante argentino. A cozinha foi parar na rua. Carnes de porco e cordeiro e hambúrgueres eram assados em uma grelha do lado de fora. A música vinha dos altos falantes de um carro.

Santiago Roig, 43, estimou seu prejuízo em R$ 30 mil. No cardápio de sábado e domingo houve a exclusão das empenadas, um dos carros chefe da casa.

Itens de geladeira só não foram perdidos devido uma alternativa caseira. Roig, que mora próximo ao local, aproveitou que sua casa tinha energia e puxou uma extensão até o restaurante.

Na rua Barra Funda, um condomínio residencial contratou gerador para o funcionamento dos elevadores e da bomba de água.

O restaurante Sururu, especialista em frutos do mar, contabiliza um prejuízo que passa dos R$ 100 mil por não ter conseguido abrir, disse o cozinheiro Roberto Souza, 38.

Os alimentos estavam estocados em imóvel com luz, evitando o descarte. Neste domingo apenas funcionários estavam no local à meia porta.

Sem luz desde sexta-feira e sem uma previsão de retorno, o cineasta Daniel Guarda, 42, morador da rua Lisboa, em Pinheiros, classificou como desgastante a tentativa de contato com a Enel.

Segundo ele, as chamadas por ligação e por aplicativo de mensagem não são completadas.

“Nunca tive problema com a Eletropaulo, quando virou Enel, os problemas começaram”. No sábado, Guarda foi até a casa de um familiar no Tatuapé para tomar banho. Para carregar o celular ele tem ido até a casa de uma amiga.

Diante da falta de respostas sobre o retorno da energia, a executiva comercial Patricia Abdelnur, 52, disse que seu sentimento era de indignação pela ausência de uma política de gestão de crise. “Você liga na Enel e fala com um robô.”

Conforme ela, o prédio em que mora, no Sacomã, zona sul, possui gerador, no entanto, após pedido do Corpo de Bombeiros, o local havia sido fechado.

Na sexta, depois da queda de energia, o equipamento foi ligado para auxiliar idosos e deficientes, mas apresentou falhas por superaquecimento.

Como forma de agilizar o funcionamento, os moradores optaram por quebrar a parede, o que possibilitou ao gerador a operar normalmente.

Patrícia se queixou, ainda, de um sumiço de órgãos públicos, como a CET, para organizar o trânsito de vias da região com o semáforo apagado.

886 MIL SEM ENERGIA

Ao menos 885,9 mil clientes da Enel em São Paulo seguem sem energia neste domingo, mais de 40 horas após o apagão que atingiu a Grande São Paulo na noite de sexta-feira. O número foi informado pelo governo do Estado de SP.

A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) também afirmou que vai exigir que o Ministério de Minas e Energia e a Aneel que apontem as medidas que estão sendo tomadas para que o serviço seja reestabelecido totalmente e que a Arsesp (agência reguladora estadual) vai investigar as responsabilidades das empresas –em uma clara referência à Enel.

Segundo a concessionária, até o início da manhã, o serviço havia sido reestabelecido para 1,2 milhão de clientes, dos 2,1 milhões atingidos pela queda de luz durante o temporal.

O Procon-SP também anunciou que vai notificar a Enel para explicar a demora para a volta da energia.