SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Olhe para mim, olhe para este corpo! Jesus Cristo! Olhe para esses músculos!”, é o que teria dito Gael García Bernal, 45, há dez anos atrás, quando se preparou para viver um boxeador em um filme que acabou não saindo do papel. “Eu preciso fazer algo com isso.”

A espera foi grande, mas valeu à pena. O ator mexicano, que no ano passado já usou os conhecimentos adquiridos ao fazer um lutador gay em “Cassandro” (Prime Video), agora volta aos ringues na série “A Máquina”, que estreou na quarta-feira (9) no Disney Plus. “Eu fiquei esperando já nesse shape, sabe?”, diz, antes de cair na gargalhada.

Contudo, foi realmente nessa época que ele começou a treinar boxe “de verdade”. “Há detalhes muito importantes do boxe que você só aprende com o tempo, técnicas e coisas assim”, comentou durante bate-papo com a imprensa internacional para promover a produção, do qual o F5 participou. “Acho que teria sido muito complicado se eu não tivesse esse histórico.”

“Eu já tinha sentido o que era ser espancado, já tinha sentido o que é estar no ringue, estava preparado para tudo isso”, completa. O ator diz que, com o conhecimento sobre o esporte, conseguiu até improvisar nas cenas em que aparece lutando com boxeadores de verdade.

Mesmo assim, três meses antes das gravações, ele começou a pegar mais pesado. “Aí foi um treinamento intenso, todos os dias”, conta. “Também fiz dieta, mas não foi a pior parte; o treino é que foi realmente pesado: tudo doía!”

Ele afirma que, no entanto, isso foi bom para se aproximar de seu personagem, Esteban, que é conhecido pelo apelido “A Máquina” –sim, daí o título da série. Com a carreira em franca decadência, o boxeador está na fase final da carreira.

“Isso me ajudou a fazer o papel porque Esteban está passando pela mesma coisa”, comparou. “Ele está machucado o tempo todo, e é isso que acontece. A partir de certo ponto, esse desempenho de alto nível de desempenho simplesmente começa a te matar, sabe?”

Na série, Gael retoma a parceria de muitos anos com Diego Luna, conterrâneo e amigo desde a infância. O colega dá vida a Andy Luján, empresário de Esteban, que mexe seus pauzinhos para que ele consiga disputar um último campeonato antes de se aposentar.

A dupla ganhou fama e encantou o mundo há mais de duas décadas com “E Sua Mãe Também” (2001) e havia contracenado pela última vez em 2012, no filme “Casa de Mi Padre”. De lá para cá, os dois fizeram trabalhos juntos detrás das câmeras, como produtores, mas estavam esperando uma nova oportunidade para atuar no mesmo projeto.

“Estávamos procurando algo para fazer juntos desde o primeiro dia [separados]”, conta Luna. Foi ainda na última filmagem juntos que surgiu a ideia de fazer uma série relacionada ao boxe, que seria sobre a relação entre um atleta e seu empresário e que abordaria a fase final da carreira dele. Além do tempo de produção normal, os dois dizem que os planos ainda foram atrapalhados pela pandemia.

“É como se a vida tivesse que acontecer para nós nos reunirmos e fazermos algo diferente”, diz o ator. “Mas há algo sobre trabalhar juntos que eu sinto falta sempre. Desde que começamos a fazer teatro, quando éramos crianças, Gael sempre esteve presente, então a sensação de atuar em um set com este cara é algo que eu preciso e que só acontece com ele, sabe?”

Luna também comentou sobre as próteses usadas na gravação, que o deixaram bem diferente de sua aparência habitual e com o aspecto de “danificado pela vida” de Andy. “A primeira decisão foi de quanto íamos usar disso, porque você não quer ficar escondido atrás de uma máscara, tem que ser a serviço de algo maior”, explica.

Ele não quis contar quanto tempo ficava na sala de maquiagem, disse apenas que a equipe conseguia colocá-las de forma “muito rápida”. Mesmo assim, “o processo foi doloroso”. “Foi desafiador porque eu nunca tinha feito isso antes, não tinha referência”, avalia. “Mas, uma vez que eu entrava no personagem, me divertia tanto que não conseguia parar. Tipo, o melhor era apenas ficar sendo o personagem o dia todo.”

Além disso, o ator enxergou outra vantagem: “Quando eu coloquei as calças que tinham um traseiro falso preso a elas, foi mágico (risos)”. “Eu virei de lado [no espelho] e falei: ‘Caramba, acho que conseguimos! Vamos, comecem a filmar!’. Agora estou muito desconfortável porque não tenho mais bunda (risos).”