RENAN MARRA E NATASHA BIN

SÃO PAULO, SP, E PEMBROKE PINES, EUA (FOLHAPRESS) – Descrito como um dos furacões mais potentes das últimas décadas e temido devido ao potencial alto de destruição, o Milton tocou o solo da Flórida na noite de quarta-feira (9) como categoria 3, caiu para a classificação 1 durante a madrugada, mas já causou diversos estragos. Cidades sofrem com enchentes, ao menos 3,2 milhões de pontos estão sem luz, e há relatos das primeiras mortes.

Pelo menos duas pessoas morreram em uma comunidade de aposentados após a passagem dos ventos por Fort Pierce, na costa leste da Flórida, segundo a NBC News, citando o xerife do condado de St. Lucie, Keith Pearson. O governo da Flórida ainda não havia confirmado estas vítimas.

O fenômeno chegou à costa por volta das 20h40 no horário local (21h40 de Brasília), quando tinha ventos de até 195 km/h. Entrou em terra pela pequena Siesta Key, a cerca de 180 km a sudoeste da turística Orlando.

Considerado “extremamente perigoso”, o Milton já tinha provocado estragos antes mesmo de chegar à terra firme. Ao longo desta quarta, a Flórida foi atingida por ao menos 19 tornados, fenômenos que ocorreram devido à mudança do clima e da aproximação do furacão, segundo especialistas.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, disse esperar que a baía de Tampa, antes vista como o possível alvo principal, pudesse escapar de danos maiores, mas o furacão deixou sua marca, destruindo o telhado do Tropicana Field, o estádio do time de beisebol Tampa Bay Rays.

Os ventos também derrubaram um grande guindaste de construção em São Petersburgo, fazendo a estrutura desabar em uma rua deserta.

A previsão é de que o Milton leve à região de 127 a 250 milímetros de chuva, o que pode superar a média para todo o mês no local. Segundo o NHC (Centro Nacional de Furacões, na sigla em inglês), o nível da água em alguns locais pode ultrapassar os quatro metros.

Uma emergência de inundação repentina estava em vigor na área da baía de Tampa, incluindo a própria Tampa, St. Petersburg e Clearwater, informou o NHC, com St. Petersburg já recebendo 422 mm de chuva na quarta-feira.

O Milton foi rebaixado para a categoria 3, em uma escala que vai até 5, na tarde de quarta. À noite, depois de tocar o solo, foi rebaixado de novo para a categoria 2 e, em seguida, para a 1. O enfraquecimento, contudo, era esperado e não mudou o prognóstico de especialistas, para os quais o fenômeno seria devastador.

Autoridades reiteram seus potenciais “efeitos explosivos” em alertas que começaram após os analistas constatarem que a tempestade se intensificou em tempo recorde quando ainda estava sobre o Golfo do México.

O alento é a primeira região atingida pelo furacão, mais ao sul do que o inicialmente previsto e mais distantes de cidades grandes. Especialistas ponderam, porém, que o fenômeno pode mudar sua trajetória a qualquer momento.

De um total de 67 condados na Flórida, 51 estavam sob estado de emergência. Ao todo, 23 milhões de pessoas estavam em áreas sob alerta máximo para desastres naturais, segundo o jornal The New York Times. E ao menos 5,5 milhões receberam ordens para saírem de suas casas.

Não havia relatos de mortes até a noite desta quarta, mas antes mesmo da chegada do Milton à Flórida autoridades disseram que ao menos 125 casas tinham sido destruídas devido à força dos ventos, sendo que a maior parte delas era móvel e localizada em comunidades de idosos.

Algumas pessoas decidiram permanecer a despeito dos alertas. Moradora da cidade de Tampa, a americana Alicia Duval disse que os ventos ficaram mais fortes às 21h no horário local (22h em Brasília). “Acabamos de perder energia e a internet. Estou em casa e assustada, mas me sinto segura por enquanto. Os ventos estão muito ruins.”

Ela afirma que a casa tem janela antifuracão e que, neste ano, instalou um novo telhado com reforço. Mas a maior preocupação é com o interior da residência. “Eu preciso preparar a máquina de oxigênio do meu pai com baterias”, contou ela, encerrando a entrevista.

Cerca de uma hora depois, Duval disse que uma árvore ao lado de sua casa havia desabado sobre o quintal do vizinho e que ela só tinha mais três baterias para a máquina do pai. “A ansiedade está alta.”

Aqueles que fugiram para o norte em busca de segurança nos últimos dois dias encontraram rodovias congestionadas e longas filas nos postos de gasolina, mesmo com os acostamentos das rodovias abertos para tentar manter os carros em movimento. Moradores e seus animais de estimação lotaram hotéis e abrigos fora das zonas de esvaziamento.

O furacão ainda obrigou ao menos nove aeroportos da Flórida, um dos destinos de viagem mais populares do mundo, a fecharem. “Esta é uma situação extremamente ameaçadora à vida”, disse o Visit Florida, a organização oficial de turismo do estado, ao aconselhar moradores e visitantes a “seguir os conselhos dados pelas autoridades locais e se retirar imediatamente se forem instruídos a fazê-lo”.

Parques de diversões, uma das principais atrações da região, também anunciaram a suspensão de suas atividades, incluindo o mais famoso deles, o Walt Disney World. “Com base na projeção mais recente, estamos fazendo ajustes operacionais adicionais para a segurança de nossos hóspedes e membros do elenco”, afirmou a empresa ao informar que parte de seus serviços ficarão fechados pelo menos até quinta.

Na região de Orlando, moradores relatam vento e chuva. O brasileiro Carlson Lisboa, que administra 150 casas de aluguel na região, está atento à passagem do furacão. “Eu coloquei todas as mobílias externas para dentro das casas para evitar que elas voassem e machucassem alguém. Fiz uma carta com orientações aos hóspedes e estou mantendo contato com eles. Por enquanto, está tudo bem por aqui.”

O governador da Flórida, Ron DeSantis, disse que conversou com o presidente americano, Joe Biden, sobre a emergência. Cerca de 8.000 membros da Guarda Nacional seriam ativados, acrescentou o político, chamando isso de provavelmente a maior mobilização na história do estado antes de um furacão.

“Agora ficou muito perigoso sair, então você precisa se abrigar e ficar agachado”, disse DeSantis, depois que o furacão chegou à Flórida, às pessoas que ainda estavam no local.

Os alertas ocorrem no momento em que a população ainda não se recuperou completamente do Helene, outro furacão que impactou a região há pouco mais de uma semana e deixou mais de 230 mortos e milhões de pessoas sem energia.

O potencial destrutivo do Milton, aliás, é exacerbado pelo fato de que o Helene removeu barreiras de areia e vegetação que poderiam desacelerar o furacão. Além disso, o Milton pode transformar destroços que ainda não foram removidos em projéteis, causando ainda mais danos.