SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta forte alta nesta quarta-feira (9), com os investidores analisando os dados de inflação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e os estímulos fiscais decepcionantes vindos da China.

Às 16h05, subia 1,03%, a R$ 5,589, em linha com a força da divisa americana em relação a uma série de moedas de mercados emergentes. Já a Bolsa despencava 1,25%, a 129.863 pontos, com quase todas as empresas no negativo.

A inflação oficial do Brasil acelerou a 0,44% em setembro, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), depois de apresentar leve queda (deflação) de 0,02% em agosto.

O resultado veio abaixo das expectativas de analistas consultados pela Bloomberg, que previam alta de 0,46%. Mas, na base anual, a inflação alcançou 4,42% —próximo ao teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central), cujo centro é de 3%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais.

A divulgação acontece em um momento de grande atenção aos próximos passos do Copom (Comitê de Política Monetária), que deixou a trajetória da taxa básica de juros do país em aberto. A Selic é o principal instrumento do BC para controle de preços.

O colegiado reiniciou o ciclo de altas na taxa Selic na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e a levou ao patamar de 10,75% ao ano. Na ocasião, informou que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.

Ainda que dentro da banda, o dado indica que a inflação está desancorada do centro da meta. Em declarações recentes, dirigentes do Copom afirmaram que o foco das decisões continuará sendo a perseguição do alvo de 3%, e não das margens de tolerância.

Neste cenário, a expectativa dos investidores é que a Selic suba em 0,50 ponto na próxima reunião de política monetária, marcada para novembro.

“A inflação ainda está desconfortável, transitando em um patamar ao redor de 4,5%, e isso deve continuar mantendo a expectativa de que o BC possa acelerar o ritmo de aperto no próximo encontro”, diz Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos.

A perspectiva de uma Selic mais alta fazia os juros futuros dispararem. O contrato para janeiro de 2026 subia 1,88%, prevendo a taxa em 12,53%. O de janeiro de 2027 avançava 2,29%, a 12,61%, e o de 2028 tinha ganhos de 2,28%, a 12,60%.

No Ibovespa, isso se traduzia em pressão às empresas mais sensíveis à economia doméstica, como Lojas Renner (-2,83%), Magazine Luiza (-2,51%) e MRV (-0,76%).

O movimento da política monetária doméstica é contrário ao dos Estados Unidos, onde o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) iniciou o ciclo de afrouxamento no encontro de setembro. O corte —o primeiro em quatro anos— foi de 0,50 ponto percentual, levando a taxa à banda de 4,75% e 5%.

A ata da reunião, divulgada nesta quarta, indicou que o corte mais agressivo foi para “alinhar a política monetária com os indicadores recentes de inflação e do mercado de trabalho”, e não deve ser interpretado como indicativo de uma “perspectiva econômica menos favorável”.

Novos dados de inflação serão publicados na quinta-feira e poderão ajudar a calibrar as expectativas dos investidores quanto ao ritmo das próximas reduções. Na ata, os dirigentes disseram que, se a economia se comportar conforme o esperado, “provavelmente será apropriado adotar uma postura mais neutra da política monetária ao longo do tempo”.

A autarquia dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os indicadores de inflação e de emprego para decidir sobre juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando os índices de preços convergem para a meta de 2% sem maiores deteriorações à empregabilidade do país.

Na semana passada, números benignos do mercado de trabalho selaram apostas de que o próximo corte nos juros será mais moderado, de 0,25 ponto percentual de magnitude. Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade chegou a 80,8%, enquanto as chances de uma manutenção da taxa no atual patamar são de 19,2%.

No radar dos investidores, ainda está o pacote de estímulos da China. De volta de um feriado de uma semana, as autoridades chinesas detalharam algumas medidas de incentivos fiscais na terça-feira para colocar a segunda maior economia do mundo de volta aos trilhos.

Em entrevista coletiva, o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Zheng Shanjie, afirmou que o governo chinês planeja usar 200 bilhões de iuanes (US$ 28,3 bilhões) em gastos orçamentários antecipados e projetos de investimento a partir do próximo ano.

O anúncio foi um banho de água fria para os investidores. “Ficou bem abaixo do esperado. O mercado se decepcionou, e, então, o mal humor se espalhou no exterior, em especial nas commodities”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

O otimismo com o pacote se dissipou na terça e derrubou moedas de países emergentes, em especial os que têm a China como mercado consumidor das commodities que exportam.

A cautela permanecia nesta quarta, com o anúncio de que o Ministério das Finanças chinês ir á realizar uma entrevista coletiva no sábado para fornecer mais detalhes sobre as medidas de estímulo.

Nesse cenário de incerteza quanto ao pacote, o dólar, além de avançar sobre o real, também tinha ganhos sobre o peso chileno, o rand sul-africano e o peso mexicano. Na cena corporativa, Vale perdia 0,47%, na esteira da queda do minério de ferro, e Petrobras caía 1,22%, seguindo o petróleo no exterior.