BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta quarta-feira (9) que a aprovação de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central teve votação expressiva e que a sabatina realizada no Senado Federal demonstra maturidade institucional.

O indicado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 66 votos a favor e 5 contra no plenário. Não houve abstenções. Durante o escrutínio desta terça (8), Galípolo foi poupado e até elogiado pelos senadores da oposição.

Com isso, obteve o placar com maior folga no plenário para uma indicação à presidência do BC ao menos desde 1999, ano do início do regime de metas de inflação.

“Eu penso que foi muito saudada a maturidade com que a sabatina foi feita e a votação, muito expressiva. Penso que é um sinal de que institucionalmente as coisas vão bem”, afirmou o ministro.

De acordo com Haddad, Galípolo levará ao presidente Lula os três nomes escolhidos para as diretorias do BC que ficarão vagas em 2025.

O chefe do Executivo deve indicar os substitutos de Carolina de Assis Barros (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e de Otavio Damaso (Fiscalização), além de escolher alguém para a diretoria de Política Monetária, hoje ocupada por Galípolo.

“Nós imaginamos que em novembro seja possível sabatiná-los já. Nós vamos primeiro submeter os nomes ao presidente para depois levar ao senador Rodrigo Pacheco [presidente do Senado] as indicações para que ele possa fixar uma data junto à CAE e depois ao plenário”, disse.

A cúpula do BC pode se tornar 100% masculina em 2025 se o presidente Lula não indicar ao menos uma mulher para as vagas que serão abertas na instituição. Questionado sobre o tema, Haddad disse que o governo se preocupa, sim, com a questão de gênero na autoridade monetária.

Na sabatina, Galípolo disse ter recebido de Lula liberdade para tomada de decisões no BC. Para o ministro, o novo presidente da instituição –seu ex-número 2 na Fazenda– é uma pessoa técnica, assim como os demais diretores da autarquia.

“Nós temos procurado escolher pessoas que tenham um grau de maturidade técnica para julgar a menor estratégia de combater a inflação, trazê-la para a meta. Agora temos um regime de meta contínua, é uma realidade saudada pelos especialistas. Estamos no bom caminho”, disse.

No mesmo dia da sabatina de Galípolo, Lula afirmou publicamente que o Brasil ainda tem a maior taxa de juros do mundo e que a Selic “haverá de ceder”. Em 2025, o Copom (Comitê de Política Monetário) terá maioria dos integrantes indicados pelo petista, sete dos nove integrantes.

“O juro está no campo restritivo, como a gente costuma dizer. Mas isso é uma discussão técnica que os nove diretores farão. Agora vamos ter a partir de janeiro novos três nomes, vamos ver como as coisas vão se dar”, afirmou Haddad.

O chefe da equipe econômica também comentou na manhã desta quarta o dado de inflação, cerca de 30 minutos antes de divulgação oficial feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em setembro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou a 0,44%. A principal pressão veio da energia elétrica, que passou de baixa de 2,77% em agosto para alta de 5,36% em setembro com a vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 1. O grupo alimentação e bebidas também teve alta (0,50%), após recuo no mês anterior (-0,44%).

“O dado de hoje [quarta] do IPCA demonstra claramente que os núcleos [de inflação, conta que retira do cálculo componentes que apresentaram volatilidade temporária] estão bem comportados, mas que a seca está afetando dois preços importantes, que é energia e alimentos. Isso não tem a ver com o juro. Juro não faz chover”, disse.

“Isso tem a ver com o fato de que tem um choque de oferta em virtude da seca que traz problemas para a inflação. Mas é temporário, não é uma coisa que vai se estender no tempo. Daqui a pouco a chuva chega e os preços voltam ao normal. Mas isso tem que ser analisado com a devida cautela”, acrescentou.