GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – Uma espera de quatro anos terminou na manhã desta terça-feira (8), com a chegada do segundo avião de repatriados do Líbano ao Brasil. O vendedor Wagih Baalbaki, 42, reencontrou a mulher e os quatro filhos, o mais velho deles com autismo. Estavam separados desde 2020, quando em meio à pandemia ele ficou desempregado no país árabe, onde trabalhava de eletricista, e veio para o Brasil sem a família.

Após o desembarque, Baalbaki viu os familiares de longe, realizando os procedimentos de imigração, e gritou seus nomes por volta das 7h. Os filhos correram para perto, mas uma barreira ainda impedia o contato. Pouco antes das 9h30, enfim, o pai chorou emocionado ao abraçar, primeiro, o filho caçula, Iyad, 7. “É uma explosão de sentimentos, inexplicável, que alívio tê-los aqui comigo”, disse. A mulher, Mira al Afiche, 42, não fala português, mas conseguiu dizer “muita emoção” ao desembarcar.

Baalbaki nunca conseguiu juntar dinheiro para comprar passagens e trazer a família para perto de si. Com o início dos bombardeios no país, a esposa relatou pânico e o desejo de retornar. “Era muita saudade, nem acredito que vou ver minha família de novo”, afirmou à reportagem no início da manhã. Ele foi um dos primeiros familiares a chegar à Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos, por volta das 6h20.

A aeronave KC-30, da FAB (Força Aérea Brasileira), pousou às 6h58, com 227 passageiros e três animais de estimação. Agora, chega a 456 o número de pessoas trazidas pela operação “Raízes do Cedro”.

No domingo (6), já havia aterrissado em São Paulo o primeiro voo com resgatados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava na base área para recebê-los e fez um breve discurso, no qual acusou o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, de usar a guerra no Oriente Médio para permanecer no poder e se vingar dos palestinos.

Nesta terça, a dona de casa Samira Saad, 44, também aguardava no aeroporto, com os filhos de 5, 19 e 23 anos, a chegada do marido, Omar Otra, 48. Há quatro meses, ele foi ao Líbano visitar pais, irmãos e outros parentes.

“Ele ia voltar dia 10 de setembro, mas o voo foi cancelado por causa da guerra. Já ficamos tensos. Aí remarcaram para o dia 23, mas não tinha mais aviões da companhia aérea indo para o Líbano”, afirmou Samira pouco antes do reencontro.

No voo também estava o estudante Khalil Kanb our, 16, para quem a situação ficou insustentável no país árabe após os ataques se intensificarem.

“O barulho das bombas era muito forte e foi ficando cada vez mais constante”, afirmou ele, que havia se mudado para o Líbano com a família dez meses atrás, para completar os estudos. “É um país maravilhoso, um segundo Brasil. Uma pena ir embora. Mas pretendo voltar.”

Nas últimas semanas, Israel intensificou seus ataques contra o Líbano em resposta ao lançamento de foguetes do grupo extremista Hezbollah —que, por sua vez, atacava o Estado judeu em solidariedade aos palestinos na Faixa de Gaza.

Em um ano, a ofensiva já deixou mais de 2.000 mortos e 1,2 milhão de deslocados no Líbano, de acordo com autoridades em Beirute. No norte de Israel, 60 mil pessoas tiveram que sair de suas casas devido aos ataques, segundo Tel Aviv.

Kanbour conta que a tensão seguiu até a hora do embarque. Durante o check-in, ele ouviu um estrondo. Quando olhou pela janela de vidro no aeroporto, viu fumaça subindo muito perto do local do embarque. “Foi assustador. Mas o alívio veio quando o avião finalmente partiu”, disse ele. Sua avó, que estava no voo, vestia um agasalho do Brasil e, emocionada, repetia: “Gratidão, gratidão.”