SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os resultados das urnas nas capitais do país indicam que os institutos de pesquisa Datafolha e Quaest conseguiram, de modo geral, identificar as principais tendências na evolução das preferências dos eleitores durante a campanha.

Também foram capazes de apontar os candidatos com mais chances de vitória no primeiro turno e os postulantes favoritos para alcançar o segundo turno.

Entre esses movimentos detectados por Datafolha e Quaest, está a disputa muito acirrada na cidade de São Paulo, com a baixíssima diferença entre Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) –ao final, os dois primeiros foram para o segundo turno.

Os dois institutos também mostraram que o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), conseguiu manter larga vantagem em relação ao segundo colocado, Alexandre Ramagem (PL), a ponto de sair vitorioso já no primeiro turno, ainda que o candidato bolsonarista tenha se fortalecido na reta final da corrida eleitoral carioca.

Ambos expuseram ainda a ascensão de Bruno Engler (PL) no último mês da disputa de Belo Horizonte, uma alta que o levou ao segundo turno ao lado do atual prefeito, Fuad Noman (PSD). Também identificaram o declínio de Mauro Tramonte (Republicanos) ao longo desse mesmo período.

Como lembra Luciana Chong, diretora do Datafolha, Tramonte era um candidato muito conhecido na capital mineira, mas seu eleitor era, entre todos, o menos convicto.

Como nas campanhas anteriores, os diretores dos institutos ressaltam que é incorreto comparar os números dos levantamentos da véspera com os resultados finais, divulgados neste domingo (6) à noite.

“Do momento em que a pesquisa é realizada à hora da votação, muita coisa pode acontecer. E a decisão dos eleitores no Brasil tem sido tomada de forma cada vez mais tardia”, afirma Chong.

“Por isso, dizemos sempre que os eleitores têm que acompanhar as tendências indicadas pelas pesquisas ao longo do tempo, e não vê-las como prognósticos. A pesquisa é uma fotografia, mostra o que o eleitor pensa naquele determinado momento, e não necessariamente o resultado da urna.”

Sobre essa movimentação de última hora, Chong cita o laudo falso divulgado por Marçal na sexta (4) à noite que associava Boulos ao uso de drogas.

O levantamento do Datafolha em São Paulo começou na sexta, dia 4, e foi concluído no sábado, dia 5, por volta das 15h. No sábado, de acordo com ela, 37% dos eleitores disseram ter tomado conhecimento do fato, ou seja, a pesquisa não captou completamente o impacto causado pelo episódio.

O último Datafolha na capital paulista apontou Boulos com 29% dos votos válidos, Nunes com 26% e Marçal também com 26%. A Quaest também apresentou um empate triplo na liderança, com o candidato do PSOL com 29%, o atual prefeito com 28% e o postulante do PRTB com 27%.

Contabilizadas as urnas, Nunes obteve 29,5% dos votos, Boulos ficou com 29,1% e Marçal, 28,1%.

Diretor da Quaest, Felipe Nunes não descarta um possível impacto da divulgação do laudo no resultado, assim como Chong.

“Com os instrumentos que nós temos, é impossível determinar estatisticamente o efeito do laudo. O que posso dizer é que, em eleições tão competitivas como a de São Paulo, o laudo falso pode ter tido o mesmo efeito que o vídeo da Zambelli na eleição de 2022.”

Naquela ocasião, a deputada federal Carla Zambelli (PL) sacou uma arma e perseguiu um homem na região dos Jardins, em São Paulo, na véspera do segundo turno. Bolsonaro atribui sua derrota para Lula (PT) em parte pela repercussão negativa do episódio.

“Pesquisa é um instrumento para captar o clima da eleição. Se é bem feita, ela captura as tendências e as ondas”, afirma o diretor da Quaest. “Reconheço todas as limitações do trabalho de pesquisa, não me considero um oráculo, um mago.”

Segundo Felipe Nunes, a Quaest identificou o que ele avalia como relevante nas disputas deste ano, o alto grau de indecisão dos eleitores até a reta final. “Curiosamente, as quatro cidades entre as que nós pesquisamos onde aconteceram as maiores ondas de reta final foram aquelas nas quais a indecisão dos eleitores era maior: Curitiba, Goiânia, Manaus e Belo Horizonte.”

De acordo com ele, Cristina Graeml (Curitiba), Fred Rodrigues (Goiânia), Bruno Engler (BH) e Capitão Alberto Neto “se tornaram, na visão dos eleitores, a melhor aposta para um movimento conservador um pouco mais radical”.

Na capital de Goiás, o último levantamento da Quaest apontou Sandro Mabel (União Brasil) com 29% dos votos válidos, Adriana Accorsi (PT) com 28%, e Fred Rodrigues (PL) com 26%. Ao final, Rodrigues atingiu 31,1%, Mabel alcançou 27,7%, e Accorsi, 24,4%.

“A gente captou a decolagem do Rodrigues, que fez um movimento forte, de 11% para 26%. Quando isso acontece, essa onda tende a se amplificar, e o candidato apareceu, inclusive, na frente do Mabel”, avalia o diretor da Quaest.