SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No primeiro dia após o primeiro turno, a participação de Jair Bolsonaro (PL) já se tornou um problema para a campanha de Ricardo Nunes (MDB), que larga favorita na disputa agora contra Guilherme Boulos (PSOL).

A divisão entre bolsonaristas e não bolsonaristas que orbitam o entorno do prefeito se acirrou, dado que o primeiro grupo insiste que Nunes faça gestos à direita e que o ex-presidente se faça presente em São Paulo, enquanto o segundo não veja necessidade disso.

Nesta segunda-feira (7), o próprio candidato e emedebistas tiveram que desmentir para aliados de Bolsonaro, incluindo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o vice na chapa, Ricardo Mello Araújo (PL), notícias de que a campanha queria ver o ex-presidente pelas costas.

Em entrevistas, Nunes afirmou que Bolsonaro ajudou e que terá mais tempo para colaborar no segundo turno, mas não deu detalhes de como seria essa participação.

Coordenador da campanha, Baleia Rossi, presidente do MDB, afirma que “a presença do ex-presidente é importante para consolidar esse voto”, referindo-se aos eleitores da direita que Nunes quer conquistar no segundo turno.

Se, no primeiro turno, Bolsonaro ficou apagado graças à falta de engajamento do próprio ex-presidente, agora há, nos bastidores, o temor de que intensificar sua participação poderia espantar o eleitorado moderado de Nunes. O que tem sido dito é que o ex-presidente terá o papel que quiser.

No primeiro turno, o prefeito repetiu o mesmo discurso ao falar de Bolsonaro, afirmando que ele demonstrou apoio ao comparecer à convenção, que indicou o vice e que solucionou a dívida do município. No segundo turno, o ex-presidente pode continuar confinado a esses temas.

O cerne do marketing da campanha continuará sendo a gestão. E Bolsonaro pode se encaixar nessa lógica, mas no sentido de que, ao deixar de pagar os juros da dívida com a União, sobrou dinheiro para a prefeitura investir em obras.

Nunes passou apertado na eleição mais acirrada da capital paulista desde a redemocratização. O prefeito terminou com 29,48% ante 29,07% de Boulos, mesmo patamar do terceiro colocado, Pablo Marçal (PRTB), com 28,14%.

Depois de toda a animosidade com Marçal, Nunes afirmou, nesta segunda, que o influenciador não vai subir em seu palanque, mas tem pedido o voto dos eleitores dele.

Marçal, por sua vez, disse que apoia Nunes, mas impôs condições. Em entrevista ao UOL, o prefeito afirmou ter recebido do influenciador um emoji de “palmas” no WhatsApp e disse que iria respondê-lo.

Nesta segunda, Nunes recebeu o apoio do Novo de Marina Helena, que marcou 1,38%.

Como o prefeito deixou claro no domingo (6), a expectativa da sua campanha é a de que os votos de Marçal migrem naturalmente para ele, o que diminui a importância de tê-lo no palanque.

O entorno de Bolsonaro, porém, fala em um momento de união e que todo apoio é necessário e importante. Para eles, é preciso que o ex-presidente peça votos para Nunes, caso contrário os eleitores de Marçal podem anular seu voto.

A migração natural, contudo, foi captada pela pesquisa Datafolha de sábado (5), véspera da votação. A simulação de segundo turno traz Nunes com 52% e Boulos com 37%. Os eleitores de Marçal se dividem em 70% para o prefeito, 22% brancos ou nulos e 7% para Boulos, o que explica o favoritismo de Nunes.

A migração de bolsonaristas também é espontânea, segundo o levantamento. Entre os eleitores de Bolsonaro, 81% escolheriam Nunes, 14% brancos ou nulos e 4% Boulos. A transferência é maior do que a de lulistas para o candidato do PSOL (63%), enquanto 31% escolheriam Nunes.

Diante disso, parte dos aliados do prefeito opina em reservado que Bolsonaro poderia ter ajudado contra Marçal no primeiro turno e não o fez. Agora, como mostrou a coluna Painel, esse grupo avalia que a presença dele não é mais necessária, pois o sentimento antiesquerda já propicia a migração de votos.

Além disso, a associação entre Bolsonaro e Nunes é munição para Boulos. O objetivo da campanha do candidato de Lula (PT) é repetir o embate entre o petista e o ex-presidente, do qual a esquerda saiu vencedora em 2022.

Contrariando tudo isso, Bolsonaro afirmou, após a apuração, que iria “mergulhar de cabeça” na eleição de São Paulo. Horas antes, quando a disputa estava indefinida, disse que apoiaria Marçal contra Boulos, se o resultado fosse esse.

A mudança repentina foi lida, mesmo por pessoas próximas a Bolsonaro, como oportunismo. Vendo que os louros do êxito de Nunes recaíram sobre Tarcísio, o ex-presidente teria se movido para partilhar do lucro político.

Outros aliados de Bolsonaro dizem que pensar isso é maldade. Para eles, a frase do ex-presidente significa que todos precisam estar juntos contra a esquerda.

Quem conversou com Bolsonaro nesta segunda afirma que ele disse estar à disposição para participar caso a campanha julgue necessário.

Ainda no domingo, Bolsonaro justificou sua ausência da campanha no primeiro turno dizendo que havia uma “uma preocupação até que ponto eu de cabeça ia ajudar ou atrapalhar”.