SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta segunda-feira (7), engatando uma semana que terá dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos como principais destaques.

Às 12h06, a moeda subia 0,40%, cotada a R$ 5,477, em movimento global de desvalorização. Já a Bolsa avançava 0,35%, aos 132.259 pontos.

Um dia depois das eleições municipais tomarem o Brasil, o mercado já olha para frente —mais especificamente, para as próximas decisões de juros do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade americana).

A semana reserva dados cruciais para calibrar as expectativas sobre a política monetária dos dois países.

Na quarta-feira, dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação do Brasil, mostrarão como os preços se comportaram no mês passado. A expectativa de analistas consultados pela Reuters é de alta de 0,46%, ante queda de 0,02% em agosto.

A divulgação vem em um momento de grande atenção aos próximos passos do Copom (Comitê de Política Monetária), que deixou a trajetória da taxa básica de juros do país em aberto. O colegiado reiniciou o ciclo de altas na Selic na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e a levou ao patamar de 10,75% ao ano.

As próximas decisões, porém, estão à mercê dos dados econômicos —e os de inflação são especialmente monitorados. Isso porque o BC trabalha com uma meta inflacionária de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, e a taxa de juros é o principal instrumento da autarquia para controle de preços.

No boletim Focus desta segunda, economistas consultados pelo BC passaram a projetar um IPCA em 4,28% ao final de 2024, uma alta de 0,01 ponto percentual em relação ao relatório da semana passada.

Ainda que dentro da banda, o dado indica que as expectativas de inflação estão desancoradas do centro da meta. Em declarações recentes, dirigentes do Copom afirmaram que o foco das decisões continuará sendo a perseguição do alvo de 3%, e não as margens de tolerância.

Neste cenário, a expectativa dos investidores é que a Selic suba em 0,50 ponto na próxima reunião de política monetária, marcada para novembro.

O movimento aqui é oposto ao dos Estados Unidos. Lá, o Fed iniciou o ciclo de afrouxamento nos juros também no encontro de setembro e realizou um corte de 0,50 ponto na taxa —o primeiro em quatro anos—, levando-a à faixa de 4,75% e 5%.

Na quinta-feira, os dados de inflação medidos pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) serão divulgados. A projeção é de alta de 0,1% em setembro, contra o avanço de 0,2% de agosto.

O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e do mercado de trabalho para decidir sobre juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando os índices de preços convergem para a meta de 2% sem maiores deteriorações na empregabilidade do país.

De uns meses para cá, os indicadores inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego estavam desacelerado a cada nova leitura. Foi esse o movimento que levou o Fed a cortar os juros de forma mais contundente na reunião de setembro.

Dados divulgados na semana passada, no entanto, indicaram que o mercado de trabalho não está passando por uma deterioração aguda, e, sim, por um esfriamento moderado.

Relatório mais aguardado pelos investidores, o “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou a abertura de 254 mil vagas em setembro, uma aceleração em relação às 159 mil abertas em agosto. A previsão era de 140 mil postos de trabalho. Também houve surpresa positiva na taxa de desemprego, que recuou para 4,1%, de 4,2% em agosto.

A dúvida do mercado era sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso antes dos números da semana passada, Jerome Powell, presidente do Fed, disse prever duas reduções na taxa de juros de 0,25 ponto até o final do ano “se a economia tiver o desempenho esperado”.

Os números benignos selaram apostas de que os próximos afrouxamentos serão, de fato, graduais.

“Para a economia, isso significa que está ocorrendo um ‘pouso suave’. Continuamos criando emprego em um ritmo acelerado e a taxa de desemprego está caindo”, disse Ross Mayfield, estrategista de investimentos da Baird.

“Isso significa que é improvável que o Fed corte em 0,50 ponto percentual em novembro ou dezembro, certamente, e talvez até faça uma pausa em novembro.” Com isso, na ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto chegou a 90%.

Quanto maior a Selic e menor os juros nos EUA, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos do tipo “carry trade”, isto é, quando operadores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas maiores.

Há ainda outro fator de relevância para os ativos globais: a escalada de conflitos no Oriente Médio.

Desde terça-feira (1º), o mundo —e o mercado financeiro— tem estado em alerta para uma possível guerra generalizada na região. O Irã, em retaliação às ofensivas de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano, disparou cerca de 200 mísseis contra Israel, que já prometeu uma resposta.

A possibilidade de um ataque ao Irã, um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, tem levantado temores de uma diminuição da oferta da commodity. Na semana passada, a cotação do barril do Brent, referência do mercado externo, disparou, e, hoje, beira US$ 80.

Olhando para o mercado doméstico, a alta do petróleo no exterior costuma favorecer o real ante o dólar, já que o Brasil é exportador da commodity.

“Apesar de os mercados observarem agora uma desaceleração mais lenta na taxa de juros dos EUA, a redução dos conflitos geopolíticos deve reaquecer o apetite por risco, favorecendo principalmente as moedas emergentes e países exportadores de commodities”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Isso também costuma se traduzir em fluxos de compra de ações ligadas ao petróleo, como a Petrobras, em alta de 0,60% no pregão desta segunda.