SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em seu primeiro discurso após a confirmação de sua ida ao segundo turno, Ricardo Nunes (MDB) buscou fustigar seu rival Guilherme Boulos (PSOL) buscando associá-lo a uma imagem de radical.

“A diferença entre a ordem e a desordem, entre a experiência e a inexperiência, entre a boa gestão e a interrogação. A diferença entre o diálogo, a ponderação, o equilíbrio e o radicalismo”, disse o atual prefeito.

Nunes agradeceu ao governador Tarcísio de Freitas, a quem chamou de corajoso, legal e amigo. Ao lado de Nunes estavam sua esposa, Tarcísio e Gilberto Kassab (PSD).

“Tem nos ajudado muito antes das eleições, tem sido um grande irmão”, afirmou sobre Tarcísio, adicionando que a parceria com o governo estadual foi de fundamental importância para avaliação de sua gestão. “Todos os dias a gente conversar, da equipe do governo do estado ser a mesma equipe da prefeitura”

Também fez aceno ao seu vice, dizendo que agradeceu a Jair Bolsonaro por tê-lo indicado. “Uma pessoa que a vida inteira se dedicou a sociedade”, disse sobre o vice, mencionando a carreira na Polícia Militar. “Eu tenho certeza que fiz um grande amigo”

Em seu discurso Nunes disse ainda estar honrando o legado de Bruno Covas, morto em 2021, e do qual foi vice, e abraçou Tomás Covas, filho do político.

Confirmado no segundo turno após uma eleição apertada, o prefeito espera herdar naturalmente os eleitores dos adversários para a Prefeitura de São Paulo e consagrar-se favorito nas próximas três semanas.

Numa disputa contra a esquerda, a campanha do MDB acredita que os eleitores de Pablo Marçal (PRTB) só poderão escolher Nunes, já que não devem votar em Boulos.

A última pesquisa Datafolha mostra que Nunes chega ao segundo turno favorito, à frente do rival no cenário projetado. Na véspera da votação, no sábado (5), o prefeito afirmou que os eleitores dos candidatos derrotados migram de forma espontânea, mesmo sem a indicação dos postulantes.

“Não vai ser o candidato que ficar fora do segundo turno que vai indicar. As pessoas vão decidir. Serão 20 dias para conversar com as pessoas. Não tem ninguém indicando ninguém, então [o eleitor] já migra naturalmente pelo perfil”, disse.

Nesta segunda etapa, Nunes planeja seguir ancorado na parceria com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu principal cabo eleitoral. Ele disse esperar que Jair Bolsonaro (PL) esteja mais presente, já que até agora o ex-presidente não se engajou de fato em atos da campanha do prefeito.

“Com relação ao [ex-]presidente Bolsonaro, eu acho que ele deve talvez ter mais condições de participar da campanha, porque nesse primeiro turno ele teve que cuidar de muitas cidades pelo Brasil”, afirmou Nunes na sexta (4).

O emedebista afirmou que não vai buscar o apoio de Marçal nesta segunda etapa. “Não falo com bandido”, disse ele na véspera do primeiro turno.

O segundo turno contra Boulos era o cenário esperado pelos aliados de Nunes desde o princípio da campanha, ainda que Marçal tenha sido um risco importante para a concretização desse plano.

Confirmada a previsão, a estratégia adotada até agora deve se manter, com destaque para entregas e obras, sobretudo na periferia, da atual gestão. A campanha pela reeleição deve evitar embates ideológicos e a polarização, que tende a favorecer Boulos, o candidato de Lula (PT), que venceu na capital em 2022.

Além de chamar Boulos de invasor e vagabundo, o prefeito tem afirmado que o PSOL é contra as concessões e ressaltado que o rival não levaria adiante uma agenda liberal como a sua.

A ida de Nunes para o segundo turno é um alívio sobretudo para seu fiador Tarcísio. O governador apostou seu capital político no prefeito, enquanto Bolsonaro deu seu apoio protocolar, mas evitou pedir votos para Nunes.

Bolsonaro, inclusive, pulou para o barco de Marçal antes da hora, quando afirmou, ao votar nesta manhã, no Rio de Janeiro, que apoiaria “qualquer um” contra Boulos caso Nunes ficasse de fora.

Ao encarnar os valores bolsonaristas e crescer no vácuo da direita conservadora, que não se identifica com Nunes, Marçal ameaçou a tática do MDB e roubou o protagonismo na eleição paulistana.

Prevaleceu, contudo, a lógica da dita velha política. A seu favor, Nunes teve a máquina da prefeitura, uma coligação de 12 partidos, fundo eleitoral farto, 65% do tempo de propaganda no rádio e na TV e caciques de peso, como Gilberto Kassab (PSD), Valdemar Costa Neto (PL) e Milton Leite (União Brasil).

Apesar da aposta do MDB em uma disputa municipal que não seria tragada pela polarização nacional, Nunes precisou se mover para a direita em alguns momentos, emparedado por Marçal. Foi ao 7 de Setembro bolsonarista, esclareceu ser contra o aborto e as drogas e até disse ter se arrependido da vacinação obrigatória contra a Covid.