JÉSSICA MAES

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou nesta quarta-feira (2) que, se o G20 assumir suas responsabilidades, pode mudar não apenas o quadro global de emissões de carbono, como também da redução de desigualdades.

“O G20 é um espaço interessante porque é 80% das emissões e 80% do dinheiro”, disse, se referindo ao fato de o bloco reunir os países mais ricos e os maiores produtores de gases de efeito estufa do mundo.

“Se resolverem fazer o dever de casa, muda em 80% a realidade que a gente está vivendo. Isso pensando não só em emissão, mas também nos desafios sociais de enfrentamento de situação de pobreza existente no mundo”.

A fala aconteceu em um evento promovido pela Editora Globo, na sede da companhia, no Rio de Janeiro.

Marina está na capital fluminense para participar da reunião ministerial do grupo de Sustentabilidade Ambiente e Climática do G20, nesta quinta (3).

No evento, a chefe da pasta ambiental abordou o tema da autoridade climática, proposto por ela durante a campanha presidencial de 2022 e que ainda não saiu do papel.

A ministra afirmou que o cargo, cuja proposta ganhou novo impulso em meio à crise de queimadas no país nas últimas semanas, está sendo desenhado para que faça parte de uma estrutura de governança voltada para o clima, não agindo apenas como um ente punitivo.

“O que você teria é um órgão que faça a articulação à luz do risco climático que está posto. Não tem esse caráter de ser, digamos, um xerife do clima. Muito pelo contrário, [o papel] é de articular políticas”, disse, defendendo que, pela expertise necessária para isso, a autoridade deveria ficar dentro do MMA (Ministério do Meio Ambiente).

Nas últimas semanas, a criação do cargo virou uma disputa dentro do governo Lula (PT), que envolve as atribuições da função e também a que órgão ela estará vinculada. A Casa Civil defende que deva ficar na Presidência, para manter transversalidade na atuação, enquanto o MMA deseja tê-la sob o seu guarda-chuva.

Marina tratou também da crise das queimadas, destacando que é preciso não só combater as chamas, mas também ter ações de retaliação a quem provoca o fogo, para que sejam dissuadidos.

“Sempre que se fala de fogo tem aqueles que dizem que é um processo cultural, do caboclo, do indígena, como se fosse essa a razão dos grandes incêndios”, disse, usando o exemplo do pantanal, onde 95% dos focos começaram em propriedades privadas.

“Apenas 17% [dos focos iniciaram] dentro de terra indígena -mas sobretudo porque o fogo transbordou das áreas privadas que estavam queimando. E houve alguns casos, como em Rondônia, de jagunços que expulsaram os brigadistas indígenas, depois os do Ibama e só conseguimos fazer o combate [das chamas] com a ajuda das forças de segurança”, contou.

Os altos índices de incêndios no Brasil devem perpassar as discussões dos chefes das pastas ambientais do G20. As autoridades irão elaborar um documento com diretrizes sobre o tema a serem encaminhadas aos chefes de Estado e de governo, na Cúpula da Presidência, em novembro.

Marina Silva vai discursar na abertura da reunião, pela manhã, e o acordo deve ser divulgado no final da tarde.

O texto deve tratar de quatro eixos temáticos, definidos como prioritários pela presidência brasileira do bloco: adaptação a eventos climáticos extremos; pagamento por serviços ambientais; oceanos; e resíduos e economia circular.

Outros temas caros à pauta ambiental e climática, como a transição energética e o financiamento sustentável, são trabalhados mais profundamente em grupos dedicados especificamente a eles. Há, ainda, uma força-tarefa focada no combate à mudança climática.